
Por Ron Bousso
LONDRES, 2 Dez (Reuters) - As mudanças que a OPEP+ está implementando em seu sistema de cotas de produção de petróleo provavelmente desencadearão uma onda de investimentos na exploração e produção entre os membros, particularmente nos produtores de baixo custo do Golfo, diminuindo as preocupações com a escassez de oferta a longo prazo.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (link) e outras grandes nações produtoras, incluindo a Rússia e o Cazaquistão, conhecidas coletivamente como OPEP+, aprovaram no domingo um novo mecanismo (link) para avaliar a capacidade máxima de produção dos membros, que será utilizada para definir as metas de produção a partir de 2027.
Isso pode parecer uma questão altamente técnica. Mas, em teoria, poderia representar uma mudança bem-vinda em relação à turbulência dos últimos anos, que viu alguns membros excederem flagrantemente suas cotas de produção (link), enquanto a Arábia Saudita, líder de facto da OPEP, lutava para impor disciplina, confundindo o mercado de petróleo.
O ministro da Energia da Arábia Saudita, Príncipe Abdulaziz bin Salman, afirmou na segunda-feira que o novo mecanismo ajudará a estabilizar os mercados (link) e a recompensar aqueles que investem na produção. A OPEP+ responde por quase metade da oferta mundial de petróleo, estimada em 106 milhões de barris por dia em 2025, segundo a Agência Internacional de Energia.
Primeiramente, é importante compreender o novo mecanismo de Capacidade Máxima Sustentável (MSC).
A avaliação de capacidade será realizada entre janeiro e setembro por uma empresa de auditoria norte-americana de renome para 19 dos 22 membros do grupo. Ela envolverá uma análise dos campos petrolíferos e da infraestrutura de cada país para avaliar a quantidade de petróleo que podem produzir em 90 dias e manter em operação por um ano.
Entre os três países que enfrentam sanções dos EUA (link), a Rússia e a Venezuela usarão um auditor não norte-americano, enquanto o Irã optou por definir sua base de referência usando uma produção média ao longo dos três meses até outubro.
As capacidades dos membros serão aprovadas em uma reunião em novembro, onde a OPEP+ também definirá suas cotas de produção para 2027, que representarão uma porcentagem igual da capacidade de cada membro. A MSC será revisada anualmente daqui para frente.
UMA ONDA DE INVESTIMENTOS NO GOLFO
O sistema parece estar preparado para desencadear uma onda de investimentos entre os membros que desejam aumentar sua própria produção e receita.
No entanto, favorece membros ricos que têm baixos custos de desenvolvimento e produção, como a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Kuwait.
De fato, os produtores do Golfo já estão olhando além das preocupações de curto prazo com o excesso de oferta e minimizando as questões sobre a demanda futura de petróleo, à medida que o mundo se afasta dos combustíveis fósseis.
Os Emirados Árabes Unidos têm como meta aumentar sua capacidade de produção para 5 milhões de barris por dia até 2027, partindo dos atuais 4,85 milhões de barris por dia, embora haja especulações de que esse aumento possa chegar a 6 milhões de barris por dia. Seus investimentos sugerem que essa possibilidade pode muito bem existir.
A companhia petrolífera nacional de Abu Dhabi, ADNOC, anunciou em 24 de novembro que planeja investir US$ 150 bilhões (link) nos próximos cinco anos para expandir suas operações. Além disso, aumentou a base de reservas convencionais de petróleo dos Emirados Árabes Unidos em 6%, para 120 bilhões de barris, após novas descobertas. A empresa busca ainda explorar as chamadas reservas não convencionais de xisto, que estima conter 22 bilhões de barris de petróleo.
A Arábia Saudita, maior exportadora de petróleo do mundo, tem uma capacidade de produção de 12 milhões de barris por dia e, de longe, a maior capacidade ociosa do grupo, que atingiu 2,2 milhões de barris por dia em outubro, representando 60% da capacidade ociosa total da OPEP+, segundo a AIE (Agência Internacional de Energia). A Aramco 2222.SE, empresa petrolífera estatal do país, extrai petróleo a US$ 2 por barril (link), afirmou recentemente seu presidente-executivo, Amin Nasser, estando entre as mais baixas do mundo.
A Aramco, cujo investimento de capital deverá atingir entre US$ 52 bilhões e US$ 55 bilhões este ano, colocará dois novos campos em operação até o final do ano, adicionando 550.000 barris por dia à capacidade de produção, segundo informou em seus resultados do terceiro trimestre.
O Kuwait e o Iraque também poderiam agora procurar acelerar os seus planos de investimento.
O Kuwait pretende aumentar sua capacidade de produção para 4 milhões de barris por dia até 2035, partindo dos atuais 2,9 milhões de barris por dia, segundo dados da AIE (Agência Internacional de Energia). O Iraque busca atrair investidores estrangeiros, incluindo a BP (BP.L) e a Exxon Mobil (XOM.N), para impulsionar sua capacidade de produção em cerca de 1 milhão de barris por dia, chegando a 6 milhões de barris por dia até 2028.
ALGUNS MEMBROS DA OPEP+ ENFRENTARÃO DIFICULDADES
O novo sistema, no entanto, coloca em desvantagem os membros cuja produção está concentrada em estruturas geológicas mais caras ou em alto-mar, como a Nigéria e o Cazaquistão, uma vez que precisarão de mais tempo e dinheiro para aumentar a capacidade.
A Rússia, a Venezuela e o Irã também podem ter dificuldades para aumentar os investimentos e a capacidade de produção devido às sanções internacionais que restringem severamente o fornecimento de equipamentos de perfuração essenciais e o acesso a tecnologias ocidentais.
Os novos investimentos, no entanto, servirão ao objetivo intrínseco da OPEP de aumentar sua participação de mercado, em particular após ter perdido terreno nos últimos anos com o aumento da produção nos EUA, Brasil, Canadá e outros países.
Os gastos também aliviarão as crescentes preocupações de que a indústria petrolífera possa enfrentar uma crise de abastecimento no final da década e além, devido à redução dos gastos globais e à desaceleração da produção nas bacias de xisto dos EUA e em outros lugares.
O SISTEMA AINDA APRESENTA PONTOS FRACOS
O novo sistema de medição de capacidade parece mais equitativo e transparente, oferecendo aos membros e participantes externos do mercado uma melhor compreensão das políticas da OPEP+.
No entanto, ainda apresenta pontos fracos. Por um lado, é provável que os membros ainda consigam produzir e exportar mais do que a sua quota estabelecida, como alguns, incluindo o Cazaquistão e os Emirados Árabes Unidos, parecem ter feito nos últimos anos.
Além disso, alguns membros terão dificuldades para aumentar a capacidade e a produção devido a sanções e conflitos, criando tensões com outros países que poderão ganhar participação de mercado.
Mas, no geral, a iniciativa da OPEP+ incentivará novos investimentos no mercado de petróleo, o que poderá levar a um aumento da oferta e manter os preços relativamente baixos.
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