
SÃO PAULO, 21 Nov (Reuters) - A indústria de café solúvel afirmou nesta sexta-feira que mantém negociações juntamente com o governo brasileiro visando a isenção tarifária dos Estados Unidos para o produto, após o presidente Donald Trump ter assinado na véspera ordem que retirou a taxa de 40% sobre os grãos verdes brasileiros.
O produto in natura já havia recebido isenção da tarifa recíproca de 10%, mas o café solúvel segue com a taxa total de 50%.
Os EUA são também tradicionalmente os maiores importadores de café solúvel do Brasil, respondendo por 20% do volume total exportado pelo país, o equivalente a aproximadamente US$200 milhões.
"A manutenção da tarifa inviabiliza a competitividade do produto brasileiro, favorecendo outras origens", afirmou a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), setor que registra divisas anuais de US$1,1 bilhão ao Brasil, com mais de 4 milhões de sacas exportadas.
Em 2024, por exemplo, o café solúvel brasileiro correspondeu a 38% das importações totais desse tipo de produto pelos EUA, segundo a associação.
Com as tarifas, pela primeira vez na história, as estatísticas de exportação de solúvel de outubro mostraram que os EUA deixaram de ser o primeiro destino do produto brasileiro, com a Rússia assumindo a posição.
A associação alertou para o risco iminente de que o café solúvel brasileiro seja permanentemente substituído por produtos de outras origens nas prateleiras dos supermercados norte-americanos.
"E, uma vez perdida essa fatia de mercado e a lealdade do consumidor, a recuperação futura será uma missão extremamente difícil, com perdas duradouras para toda a cadeia produtiva nacional, desde os cafeicultores até as indústrias e seus trabalhadores", afirmou.
Segundo a Abics, a decisão do governo Trump "contrasta com o progresso geral nas negociações bilaterais e representa um desafio contínuo para o setor".
"Apesar do revés, a Abics reitera seu compromisso inabalável com a continuidade das negociações. Estamos mobilizados e engajados em todas as frentes diplomáticas e comerciais para buscar a isenção completa do café solúvel das tarifas adicionais."
Outras entidades do setor, como Conselho dos Exportadores de Café do Brasil e a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) celebraram a retirada das tarifas totais aos cafés verdes do Brasil.
Nesta sexta-feira, os preços do café na bolsa de Nova York despencavam mais de 4%, com o mercado vendo o retorno do produto brasileiro ao mercado norte-americano.
O Brasil, maior produtor e exportador de café, fornece aos Estados Unidos, o maior consumidor do mundo, cerca de um terço das importações totais dos EUA.