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Abandonados pela China, produtores de soja dos EUA lutam para encontrar outros importadores

Reuters3 de out de 2025 às 14:00

Por Tom Polansek

- Uma missão comercial à Nigéria. Um memorando de entendimento com o Vietnã. Uma onda de compras de Bangladesh.

Esses países não costumam ser grandes clientes de soja do cinturão agrícola dos EUA. Mas agricultores desesperados, suas organizações comerciais e o governo do presidente Donald Trump estão se voltando para os cantos mais distantes do mundo na esperança de evitar um desastre para a agricultura decorrente da guerra comercial que levou a China a deixar de comprar suprimentos dos EUA.

Os esforços até agora não estão conseguindo compensar a perda do maior cliente do país para a safra de soja, segundo dados e entrevistas, e o prejuízo financeiro já atinge fabricantes de tratores e outras empresas do setor agrícola.

Pela primeira vez em mais de 20 anos, os importadores chineses ainda não compraram soja da safra de outono dos EUA, forçando os agricultores a armazenar seus grãos na esperança de que os preços acabem subindo em relação à mínima de cinco anos. Esse risco atrasa a capacidade deles de obter receita com a venda das colheitas justamente em um momento em que enfrentam custos crescentes com tudo, desde mão de obra e energia até fertilizantes.

Em um sinal de que se espera que os tempos difíceis continuem na zona rural dos Estados Unidos, Trump prometeu dar os rendimentos das receitas tarifárias aos agricultores, que em grande parte apoiaram suas campanhas para presidente.

Na quinta-feira, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, disse que o governo faria um anúncio na terça-feira sobre apoio aos agricultores.

As tarifas que Washington e Pequim impuseram sobre os produtos um do outro este ano tornaram a soja dos EUA muito cara para os compradores chineses, levando os importadores a comprar da América do Sul.

CRISE AGUDA PARA PRODUTORES DE SOJA DE ILLINOIS

A crise é particularmente aguda em Illinois, o maior Estado produtor e exportador de soja dos EUA.

A aproximadamente 97 km a oeste de Chicago, onde a cidade e os subúrbios dão lugar a campos verdes, o agricultor Ryan Frieders, 49 anos, armazenará grande parte de seus grãos em silos depois de vender parte da colheita esperada a preços abaixo do custo de produção.

Após meses de trabalho que incluíram o plantio de sementes, a fertilização dos campos e a pulverização de herbicidas, os produtores de Illinois estão enfrentando perdas de até US$8 por acre, graças aos baixos preços da safra e às fracas exportações, de acordo com estimativas da Universidade de Illinois.

As exportações de soja dos EUA para a China caíram 39% em volume, para 5,9 milhões de toneladas, de janeiro a julho, antes do início da colheita de outono, segundo os últimos dados do governo. Em termos de valor, as remessas caíram 51%, para US$2,5 bilhões, roubando dos agricultores bilhões de dólares em negócios.

Os EUA tiveram um grande aumento nas exportações para Bangladesh, com pouco mais de 400.000 toneladas, uma fração da demanda típica da China. Apesar do aumento dos embarques para o Vietnã, Egito, Tailândia e Malásia, as exportações totais de soja dos EUA caíram 8% em volume em relação ao mesmo período do ano anterior, para 18,9 milhões de toneladas.

Juntamente com autoridades do setor, Frieders, que cultiva em Waterman, Illinois, viajou para a Turquia e Arábia Saudita em fevereiro para se reunir com compradores e visitar processadores em uma viagem patrocinada pelo grupo comercial Conselho de Exportação de Soja dos EUA.

"Fala-se sobre a Índia e a expansão para lá, o Sudeste Asiático e o Norte da África: esses são os mercados do futuro", disse Frieders, acrescentando que "não há um mercado perdido que não tenhamos analisado e que poderia explodir de repente e se tornar uma nova China".

SETOR DE SOJA BUSCA MELHORAR COMÉRCIO

A Secretária de Agricultura dos EUA, Brooke Rollins, disse nas redes sociais em setembro que Taiwan se comprometeu a comprar US$10 bilhões em produtos agrícolas dos EUA nos próximos quatro anos, incluindo soja. Ela chamou o compromisso de "divisor de águas", mas foi enganosa: esse compromisso não representaria um aumento.

Os EUA exportaram US$3,8 bilhões em produtos agrícolas americanos para Taiwan em 2024, de acordo com dados dos EUA. Se esse mesmo ritmo de vendas continuasse ao longo de quatro anos, o total seria de US$15 bilhões.

O Departamento de Agricultura dos EUA não respondeu a um pedido de comentário sobre a declaração de Rollins.

Grupos do setor também tentaram aumentar as exportações dos EUA.

Durante uma missão comercial em junho, co-patrocinada pelo Conselho de Exportação de Soja dos EUA, o ministro da agricultura do Vietnã assinou memorandos de entendimento para comprar mais de US$1,4 bilhão em produtos agrícolas dos EUA, inclusive soja, informou o conselho.

O conselho também se reuniu com importadores e processadores de soja nigerianos em junho para promover o comércio, na esperança de aumentar as modestas 64.000 toneladas embarcadas para lá no ano passado, de acordo com a Missão dos EUA na Nigéria.

Em agosto, Illinois recebeu compradores agrícolas do Peru, Colômbia, Nicarágua, El Salvador, México e República Dominicana em uma visita anual a fazendas e instalações de manuseio de culturas.

CHINA DOMINA IMPORTAÇÕES GLOBAIS DE SOJA

Com mais de 1,4 bilhão de habitantes e o maior rebanho de suínos do mundo, é difícil substituir a China como compradora de soja. O país importou uma média de 61% dos suprimentos de soja comercializados no mundo nos últimos cinco anos, mais do que o resto do mundo combinado, de acordo com a American Soybean Association.

Em 2024, os EUA exportaram quase 27 milhões de toneladas de soja para a China e 5 milhões de toneladas para o México, o segundo maior comprador.

Os negócios da China agora estão indo para a América do Sul, como aconteceu durante a última guerra comercial de Trump.

No mês passado, a soja dos EUA estava cerca de 80 a 90 centavos de dólar por bushel mais barata do que a soja brasileira para embarque em setembro ou outubro, mas a tarifa de 23% da China sobre os embarques dos EUA acrescentou US$2 por bushel ao custo para os importadores, disseram comerciantes.

Na Argentina, o governo do presidente Javier Milei suspendeu brevemente os impostos de exportação sobre a soja em setembro, atraindo compradores chineses que rapidamente reservaram cargas, segundo traders.

Os acordos enfureceram os agricultores norte-americanos excluídos da China, pois Bessent disse que Washington estava negociando para apoiar financeiramente Milei, um aliado de Trump, com uma linha de swap de US$20 bilhões para a Argentina.

"A frustração é esmagadora", disse Caleb Ragland, 39 anos, agricultor de Kentucky e presidente da Associação Americana de Soja.

Decatur, Illinois, que abriga a sede norte-americana da Archer-Daniels-Midland ADM.N, era conhecida anteriormente como a capital mundial da soja por causa de seu setor de processamento, disse a prefeita Julie Moore Wolfe.

Na Farm Progress Show, quando perguntada sobre onde seria a nova capital da soja, a prefeita baixou o tom de voz para um sussurro.

"Pode ser o Brasil", disse ela.

(Reportagem de Tom Polansek)

((Tradução Redação São Paulo))

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