Por Ron Bousso
LONDRES, 15 Set (Reuters) - A recente descoberta pela BP de um campo de petróleo gigante na costa do Brasil reacendeu o entusiasmo dos investidores, lembrando a era de exploração agressiva de duas décadas atrás, quando as empresas estavam sedentas por recursos em meio a temores de que o mundo estivesse ficando sem petróleo.
O anúncio da descoberta de Bumerangue, descrita pelo presidente-executivo Murray Auchincloss como a mais significativa da BP em 25 anos, provocou um aumento de 8% nas ações da empresa listadas em Londres em agosto, superando o desempenho de seus pares do setor.
A descoberta sinaliza que as preocupações de que as grandes petroleiras possam ficar com ativos ociosos na transição energética podem estar diminuindo.
Se for totalmente desenvolvido, o enorme campo poderá ser transformador para a companhia de US$93 bilhões, que nos últimos anos enfrentou turbulência na liderança, desvio estratégico, especulação persistente de aquisição e pressão de investidores ativistas.
A BP precisará de meses para avaliar completamente Bumerangue, mas os resultados iniciais revelaram uma coluna de hidrocarbonetos de 500 metros em um reservatório de pré-sal de alta qualidade que pode se estender por mais de 300 quilômetros quadrados (115,8 milhas quadradas).
Claudio Steuer, do Oxford Institute for Energy Studies, estima que o campo possa conter de 2 bilhões a 2,5 bilhões de barris de óleo equivalente recuperável, com base em campos próximos. Isso, por sua vez, poderia se traduzir em um enorme desenvolvimento offshore capaz de produzir cerca de 400.000 barris por dia durante décadas, de acordo com Steuer. E a BP, com uma participação de 100%, poderá colher um enorme lucro com essa descoberta.
Essa descoberta reflete o fato de que a BP agora está redirecionando dinheiro e talentos para o setor de upstream, após anos de redução de suas equipes de exploração e engenharia de reservatórios. Ela planeja aumentar os gastos anuais com upstream em 20%, chegando a US$10 bilhões até 2027, e manter a produção estável em 2,3 milhões a 2,5 milhões de barris por dia até 2030.
A BP parece estar voltando à estratégia do início dos anos 2000 - e não está sozinha.
NÃO MAIS ENCALHADOS?
Durante duas décadas, o tamanho das reservas foi uma métrica fundamental para os investidores das empresas de energia. Para aumentar as reservas, as grandes petrolíferas tiveram que aumentar os gastos com exploração, que cresceram de US$5 bilhões por ano entre 1995 e 2005 para um pico de mais de US$35 bilhões em 2013, de acordo com a consultoria Thunder Said Energy.
Mas a corrida diminuiu em meados da década de 2010, pois os retornos dos acionistas foram corroídos pelo aumento dos custos de desenvolvimento e pela queda dos preços do petróleo.
O apetite pela exploração foi ainda mais reduzido pelo acordo climático de Paris de 2015 e pelas previsões subsequentes de desaceleração, se não de redução, da demanda de petróleo na próxima década.
As empresas - e os investidores - começaram a temer que as reservas pudessem se tornar ativos encalhados que nunca seriam explorados e que, por fim, não teriam valor.
Consequentemente, os gastos com exploração da ExxonMobil, Chevron, Shell, BP e TotalEnergies caíram para menos de US$10 bilhões por ano nos últimos anos, e as empresas começaram a minimizar o tamanho das reservas.
Atualmente, as empresas petrolíferas ocidentais detêm reservas equivalentes de 7 a 13 anos de produção atual, em comparação aos de 12 a 17 anos de uma década atrás. As reservas da BP eram de 6,25 bilhões de barris de petróleo equivalente no final de 2024, 8% abaixo do ano anterior e equivalentes a 7,25 anos de produção, em comparação com os 15 anos de uma década atrás.
Agora, é claro, a maré parece estar mudando, como indica o entusiasmo em torno da descoberta de Bumerangue.
O sentimento dos investidores está mudando, e anos de subinvestimento significam que as grandes empresas ocidentais agora precisam repor as reservas simplesmente para manter a produção.
REDIRECIONAMENTO DE RECURSOS
Atualmente, as empresas estão direcionando cada vez mais recursos para a exploração, uma atividade de alto risco e alta recompensa. O presidente-executivo da Chevron, Mike Wirth, disse em agosto que "não estava satisfeito" com os resultados da exploração nos últimos anos e, como resultado, a empresa norte-americana está aumentando os gastos na busca de novos recursos, tanto em torno de sua produção existente quanto em novas bacias de fronteira, como Suriname, Namíbia e Egito.
"Houve um aumento na atividade, começando pelas rodadas de licenciamento. Esse é o principal indicador da atividade de exploração", disse o analista-chefe da Rystad, Per Magnus Nysveen.
A Rystad estima que o mundo possui 1,5 trilhão de barris de petróleo potencialmente recuperável, incluindo petróleo não descoberto, o que equivale ao consumo global total de 1900 a 2024. Isso parece muito, mas a extração desses recursos potenciais exigirá grandes investimentos.
Além disso, a incerteza sobre a demanda de longo prazo complica a situação. A Agência Internacional de Energia espera que a demanda se estabilize até 2030, enquanto a Opep prevê que o crescimento continue até 2050. Muito depende da rapidez com que a transição energética progride, especialmente em mercados importantes como a China.
No entanto, também é possível que haja um piso sob a demanda daqui para frente, dado o foco renovado na segurança energética que começou após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022 e o aumento esperado nas demandas gerais de energia impulsionadas pelo boom da inteligência artificial.
O debate sobre esses cronogramas continuará, mas uma coisa é certa. Para a BP, a descoberta de Bumerangue está chegando no momento certo.
(Por Ron Bousso)
((Tradução Redação Rio de Janeiro)) REUTERS MN