Por Marta Nogueira
RIO DE JANEIRO, 10 Set (Reuters) - A mineradora australiana St George Mining SGQ.AX assinou com a norte-americana REAlloys seu primeiro acordo vinculante para comercializar terras raras do Projeto Araxá, na cidade de mesmo nome, em Minas Gerais, previsto para entrar em operação em 2027, anunciou a companhia nesta quarta-feira.
Conforme o acordo, as empresas vão revisar e considerar estratégias de comercialização com vistas à REAlloys garantir um contrato de compra de longo prazo para até 40% da produção de terras raras do projeto, explicou a empresa em um comunicado.
Empresa de manufatura de materiais magnéticos, metais críticos e ligas com sede em Ohio, nos Estados Unidos, a REAlloys é líder na cadeia de suprimentos de ímãs dos EUA com contratos governamentais e industriais.
Elementos das terras raras são importantes matérias-primas para a produção de ímãs.
"Nós estamos falando de um acordo vinculante. Então, isso realmente coloca a gente em um outro patamar de entrega de materiais e de compromisso com estas empresas e com o Departamento de Defesa americano", disse à Reuters o presidente da australiana, Thiago Amaral, nesta quarta-feira.
O acordo, segundo o executivo, posiciona a St George como player significativo na cadeia de suprimentos de terras raras dos EUA.
O país norte-americano vem buscando maior participação estratégica global neste mercado que é amplamente dominado pela China, que possui a maior produção global de terras raras e é líder na produção mundial de ímãs derivados desses elementos.
Amaral destacou que o Projeto Araxá possui um recurso de terras raras de classe mundial, do mesmo tipo dos dois principais depósitos de terras raras fora da China -- a mina Mt Weld, da Lynas Corporation, na Austrália, e Mountain Pass, da MP Materials, nos EUA.
O negócio fechado prevê também a realização de testes metalúrgicos pela REAlloys em materiais de terras raras do Projeto Araxá, visando maximizar a recuperação de elementos para ímãs de alto valor, dentre outros pontos, segundo a companhia.
POTENCIAIS ESTRATÉGICOS
O Projeto Araxá prevê ainda a produção de nióbio, um produto também altamente estratégico que traz um diferencial competitivo ao ativo, uma vez que as terras raras ainda são vistas como produtos com grande volatilidade no comércio global, tanto de preço quanto de demanda.
"O nióbio é o diferencial do Projeto Araxá porque garante a sustentabilidade ao longo do tempo, independentemente das fortes oscilações que marcam os negócios de terras raras", disse Amaral, ao falar com a Reuters no mês passado, ressaltando que o mercado de nióbio é estável, com demanda praticamente garantida, e tende a crescer diante da transição energética.
O acordo vinculante fechado com a REAlloys se soma a outros dois memorandos de intenção relevantes do projeto, um deles que prevê a concessão à siderúrgica chinesa Fangda de direitos para adquirir até 20% dos produtos de nióbio por um período de cinco anos.
O segundo acordo comercial foi assinado em fevereiro, com a empresa chinesa de engenharia do setor de mineração Xinhai, que investiu cerca de US$5 milhões na St George.
Nas atuais estimativas, a companhia prevê capacidade de produção anual de 5 mil toneladas de ferro-nióbio e 15 mil toneladas de produtos de terras raras a partir de 2027.
Entretanto, no início do mês, a companhia publicou resultados de sondagens, que apontam "grande possibilidade de aumento do potencial" de produção.
Amaral explicou ainda que o ferro-nióbio foi incluído como exceção nas tarifas impostas pelos Estados Unidos nas importações de produtos brasileiros, enquanto as terras raras não foram citadas diretamente.
"Porém, existe um código (na lista de exceções) que está dizendo o seguinte: 'elementos que são processados nos Estados Unidos'. Então, se (terras raras) se classificar como elementos que eu vou comprar e transformar, por exemplo, em ímãs nos Estados Unidos, pode ser que ele se enquadre ali", disse Amaral, afirmando que a questão deverá ficar mais clara futuramente.
Os principais acionistas da St George são a empresa norte-americana Itafos, com 10% das ações, recebidas como parte do pagamento pela venda do Projeto Araxá à St George, em fevereiro deste ano, e a Xinhai, com 7% resultado do investimento realizado em fevereiro como parte do acordo. O restante é pulverizado entre acionistas institucionais e de varejo, com percentuais inferiores a 5%.