Por Valerie Volcovici
WASHINGTON, 2 Set (Reuters) - Mais de 85 cientistas climáticos de renome disseram na terça-feira que a recente avaliação climática do Departamento de Energia (DOE) de Trump, usada para justificar a revogação das regras federais sobre gases de efeito estufa, não atende aos padrões de integridade científica.
O grupo de cientistas, liderado pelos professores Andrew Dessler, da Texas A&M University, e Robert Kopp, da Rutgers University, apresentou uma revisão de mais de 400 páginas da avaliação escrita por cinco cientistas escolhidos a dedo pelo secretário de Energia, Chris Wright, que tem uma visão contrária da ciência climática convencional, a tempo para o prazo final de 2 de setembro para comentários públicos.
Eles disseram que o relatório do Grupo de Trabalho sobre o Clima, de Wright, "não representa adequadamente a compreensão científica atual das mudanças climáticas".
"Não parece ter sido feita nenhuma tentativa de equilibrar os pontos de vista representados [no Grupo de Trabalho sobre o Clima]; em vez disso, esse grupo parece ter sido recrutado pessoalmente pelo secretário de Energia para promover um ponto de vista específico favorecido pela liderança do DOE", escreveram eles.
Quando o relatório foi divulgado em julho, Wright disse que acredita que a mudança climática é real, mas achava que era necessário trazer mais debates sobre o assunto para o público.
"Analisei o relatório cuidadosamente e acredito que ele representa fielmente o estado da ciência climática atual", afirmou ele. "Ainda assim, muitos leitores podem se surpreender com suas conclusões, que diferem em aspectos importantes da narrativa dominante. Isso é um sinal de como a conversa pública se distanciou da própria ciência."
O grupo de 85 cientistas disse que o Departamento de Energia se baseou muito em pesquisas desmentidas, interpretou erroneamente outras pesquisas e não realizou um processo de revisão por pares para garantir a credibilidade da avaliação.
Em contraste, os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e da Avaliação Nacional do Clima dos EUA tiveram milhares de autores e colaboradores e uma revisão independente demorada. Esses relatórios refletem que a mudança climática está piorando, com impactos observados em todo o mundo.
"O relatório privilegia as opiniões desatualizadas de dissidentes individuais em vez do consenso dos cientistas", disse Andra Garner, cientista climática que participou da revisão. "O relatório tem o objetivo de apoiar uma decisão política específica e não é uma síntese imparcial da ciência climática."
Na segunda-feira, o Departamento de Energia tinha recebido mais de 2.000 comentários sobre o relatório antes do prazo final de terça-feira.
((Tradução Redação São Paulo))
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