Por Ella Cao e Emma Pinedo e David Latona
PEQUIM/MADRID, 11 Abr (Reuters) - A China assinou dois protocolos de comércio agrícola com a Espanha, abrangendo carne suína e cerejas, enquanto a segunda maior economia do mundo age para reforçar os laços com a União Europeia em meio à escalada da guerra comercial entre Pequim e os EUA.
O acordo, anunciado na sexta-feira pelo primeiro-ministro espanhol Pedro Sanchez em Pequim, ocorreu depois que o presidente dos EUA, Donald Trump, aumentou as tarifas sobre as importações chinesas para 145%, levando a China a aumentar suas próprias tarifas sobre os produtos americanos para 125%.
"Em um contexto de enorme turbulência comercial internacional, derivada da crise tarifária, recebemos com otimismo e esperança esse novo gesto do gigante asiático, que está abrindo novas opções para o fornecimento de produtos suínos", disse a Associação Nacional das Indústrias de Carne da Espanha (Anice).
O novo acordo inclui exportações de estômago de porco -- um produto amplamente consumido na China, mas não autorizado anteriormente, de acordo com Daniel de Miguel, gerente internacional da Interporc, a associação de produtores de carne suína da Espanha.
Os analistas consideram o acordo como um sinal de que Pequim pode aliviar sua investigação antidumping sobre a carne suína da UE, lançada no ano passado em retaliação às tarifas da UE sobre os veículos elétricos chineses.
A investigação poderia afetar gravemente países como Espanha, Holanda e Dinamarca, porque grande parte dos embarques de carne suína da UE para a China são orelhas, narizes, pés e vísceras de porco -- produtos raramente consumidos na Europa, mas populares na China.
"Essa é uma ótima notícia para os criadores de suínos da Espanha", disse Even Rogers Pay, analista agrícola da Trivium China. "Isso sugere que os reguladores podem adiar ou facilitar a investigação sobre a carne suína, como fizeram recentemente com o conhaque."
A China estendeu sua investigação sobre o conhaque da UE por três meses e está em negociações com a UE para estabelecer preços mínimos para os veículos elétricos chineses.
"Isso faz parte de um padrão de Pequim que busca estabilizar e melhorar suas relações comerciais com vários parceiros comerciais importantes, incluindo a UE", acrescentou Pay.
O anúncio de Trump, na quarta-feira, de uma pausa de 90 dias nas tarifas para dezenas de países levou a UE a adiar a aplicação de taxas retaliatórias sobre cerca de 21 bilhões de euros (US$23,85 bilhões) de importações dos EUA, que entrariam em vigor em 15 de abril.
O bloco ainda está avaliando como responder às tarifas de automóveis dos EUA e às taxas mais amplas de 10% que permanecem em vigor.
A China importou US$4,8 bilhões em carne suína, incluindo vísceras, em 2024 -- mais da metade da UE, com a Espanha liderando o bloco em exportações por volume.
A investigação sobre a carne suína da China deve ser concluída até 17 de junho, mas pode ser prorrogada.
(Reportagem de Ella Cao em Pequim, Emma Pinedo, David Latona e Corina Pons em Madri)
((Tradução Redação São Paulo 55 11 56447751)) REUTERS RS