Disputas comerciais impulsionarão comércio agrícola entre Rússia e China, dizem analistas

Por Olga Popova

MOSCOU, 13 Mar (Reuters) - A China deve aumentar as importações de produtos agrícolas da Rússia em resposta ao crescente conflito comercial com os Estados Unidos e o Canadá, sendo que o comércio de ervilhas deve ser um dos primeiros a aumentar.

Na semana passada, a China impôs taxas de importação no valor de US$21 bilhões em produtos agrícolas e alimentícios norte-americanos e, no sábado, anunciou tarifas sobre alguns produtos canadenses, incluindo ervilhas.

"Essa é uma grande oportunidade para a Rússia substituir um concorrente no mercado chinês, mas temos que lembrar que a China tem comprado muitas ervilhas de melhor qualidade do Canadá, portanto nem todas as nossas ervilhas servirão", disse Sergei Pluzhnikov, diretor da Russian Pulses Analytics.

A China tornou-se o maior importador de ervilhas amarelas russas na temporada 2023/24, com embarques totalizando 1,13 milhão de toneladas, informou a Rusgrain.

A Rússia não publica estatísticas oficiais de exportação.

Alguma concorrência poderia vir da Ucrânia, que no início deste mês assinou um acordo com a China que poderia abrir caminho para as exportações de ervilhas.

O trigo russo também pode ter um crescimento nas vendas, ajudando o país a atingir sua meta de aumentar as exportações de produtos agrícolas em 50% até 2030 em relação a 2021. A China é um de seus clientes mais importantes.

ESPERANÇAS NO TRIGO

O chefe de análise da empresa de transporte de grãos Rusagrotrans, Igor Pavensky, sugeriu que as novas tarifas dos EUA podem levar a uma expansão das importações chinesas de trigo de primavera russo, possivelmente antes do final da temporada 2024/25 (julho/junho)

A Rússia ultrapassou os EUA no fornecimento de trigo para a China pela primeira vez nesta temporada, tendo enviado 275.000 toneladas ao país asiático, observou ele.

As exportações de trigo dos EUA para a China até agora nesta temporada totalizaram apenas 139.100 toneladas, em 27 de fevereiro, abaixo das 995.600 toneladas no mesmo período do ano anterior, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos EUA.

O trigo está fluindo da Sibéria, que acumulou grandes estoques, para os portos do Mar Negro em um ritmo recorde, auxiliado pelos subsídios ao transporte.

"É possível que, em caso de intensificação das compras, mesmo antes do final da atual temporada, a China comece a comprar grandes carregamentos de trigo russo dos portos do Mar Negro", disse ele.

Anteriormente, o trigo era exportado para a China quase que inteiramente por meio de passagens de fronteira e portos do Extremo Oriente.

Andrei Sizov, chefe da agência SovEcon, disse que o conflito comercial com os EUA poderá ajudar a acelerar a tão esperada decisão da China de permitir as importações de trigo de inverno russo.

A China proibiu as importações de trigo de inverno em meados da década de 1970 devido à presença de uma doença fúngica que pode reduzir o rendimento e a qualidade da safra em algumas partes da Rússia.

Houve conversas sobre a suspensão da proibição, mas ela continua em vigor.

A China permite a importação de trigo de primavera da Rússia.

O trigo de inverno, que tem maior rendimento e é mais lucrativo para os agricultores, representa cerca de 70% da colheita total de trigo da Rússia.

((Tradução Redação São Paulo))

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