Venda da participação de US$ 5,8 bilhões da SoftBank na Nvidia reacende temores sobre bolha da IA

Por Aditya Soni

11 Nov (Reuters) - A venda da participação da SoftBank Group na Nvidia por US$ 5,8 bilhões abalou os mercados de ações na terça-feira, alimentando temores de que o frenesi em torno da inteligência artificial possa ter atingido seu pico, especialmente após recentes alertas de chefes de bancos de Wall Street e de um famoso investidor com posições vendidas (short seller).

Em seus resultados trimestrais (link), a empresa japonesa de investimentos em tecnologia 9984.T afirmou ter vendido todas as 32,1 milhões de ações da Nvidia que detinha em outubro para financiar o ambicioso impulso em IA do presidente-executivo Masayoshi Son, construído em sua aposta "com tudo" na OpenAI, criadora do ChatGPT.

O SoftBank precisa dos recursos para iniciativas que incluem o projeto Stargate de US$ 500 bilhões (link) para expandir a capacidade dos centros de dados dos EUA e um financiamento de até US$ 40 bilhões prometido à OpenAI (link), cujos detalhes de financiamento não foram divulgados com os anúncios.

Mas o momento da venda intensificou as dúvidas de alguns investidores sobre se as avaliações no setor de IA poderiam ter se descolado dos fundamentos.

As ações da Nvidia NVDA.O caíram mais de 2% no início do pregão, pressionando o índice de referência S&P 500 .SPX. Somando-se à apreensão, houve um corte na previsão de receita (link) da provedora de nuvem de IA CoreWeave devido a um atraso contratual que fez com que suas ações caíssem 9%.

Os rumores sobre uma bolha da IA ganharam força nas últimas semanas, depois que os CEOs do Morgan Stanley MS.N e do Goldman Sachs GS.N alertaram que as ações poderiam estar caminhando para uma queda. (link) Enquanto isso, o gestor de fundos de hedge Michael Burry, conhecido por suas posições vendidas no mercado imobiliário norte-americano antes da crise de 2008, apostou contra a Nvidia e a Palantir.

Diversos analistas disseram que a venda sugere que Son - um dos investidores mais audaciosos do setor de tecnologia - vê o crescimento vertiginoso que transformou a Nvidia na primeira empresa a valer US$ 5 trilhões no mês passado arrefecendo, após uma alta de mais de 1.200% nos últimos três anos.

Mas alguns apontaram para o histórico irregular do SoftBank na gestão de suas participações na Nvidia. A empresa, segundo algumas estimativas, perdeu uma valorização de mais de US$ 100 bilhões nas ações da Nvidia ao vendê-las em 2019, antes do boom da IA, para depois recomprar as ações da fabricante de chips.

"Quanto ao momento, não se pode dizer que Masayoshi Son tenha sido excelente na negociação de ações da Nvidia", disse C.J. Muse, diretor-gerente sênior da Cantor Fitzgerald. "Parece ser simplesmente uma questão de alocação de recursos – encontrar fundos para investir em outros lugares."

OPENAI F OCUS, O CRESCENTE DE SON fundo de guerra

Juntamente com a venda de ações da Nvidia, o SoftBank vendeu cerca de US$ 9,2 bilhões em ações da T-Mobile TMUS.O, proporcionando a Son um fundo maior para consolidar sua influência em um setor ávido por capital e pelos chips necessários para financiar a busca por tecnologia de IA capaz de igualar ou superar a inteligência humana.

"Ao capitalizar agora, ele está garantindo o capital necessário para redobrar sua convicção nas aplicações de IA e na infraestrutura superescalável por trás delas, como a OpenAI, a Oracle e o projeto Stargate", disse Michael Ashley Schulman, diretor de investimentos da Running Point Capital Advisors.

Mas a crescente aposta na OpenAI também vincula a SoftBank, que sofreu enormes prejuízos (link) em seus investimentos do Vision Fund, mais perto da startup que está no centro de uma série de negócios circulares que alimentaram preocupações sobre a bolha.

As ações da empresa japonesa, que mais que dobraram de valor este ano, estão sendo precificadas cada vez mais com base em sua exposição à OpenAI.

As ações dispararam no mês passado após a notícia de uma ampla reestruturação da OpenAI. (link) Isso liberta a startup de suas raízes sem fins lucrativos.

A startup está considerando uma oferta pública inicial (IPO) de US$ 1 trilhão já no próximo ano, o que poderia representar um grande lucro para investidores como Microsoft e SoftBank, segundo reportagem da Reuters (link).

A valorização crescente da OpenAI também impulsionou o lucro líquido do SoftBank no segundo trimestre, que mais que dobrou.

No entanto, a OpenAI não forneceu detalhes claros sobre como planeja financiar seus contratos de infraestrutura de IA, que totalizam cerca de US$ 1,4 trilhão.

A empresa espera fechar o ano com US$ 20 bilhões em receita recorrente anual e recentemente recuou em relação aos comentários sobre a necessidade de empréstimos com garantia governamental.

"O passado controverso do Vision Fund certamente confere um ar de jogo de pôquer de alto risco a esse desinvestimento", disse Schulman.