WASHINGTON/OTAVA/TÓQUIO, 4 Abr (Reuters) - Países de todo o mundo ameaçaram travar uma guerra comercial com os Estados Unidos, já que as tarifas generalizadas impostas pelo Presidente Donald Trump alimentaram as expectativas de uma recessão global e de aumentos acentuados dos preços de uma série de bens no maior mercado consumidor do mundo.
As sanções anunciadas por Trump, na quarta-feira, desencadearam uma queda nos mercados financeiros mundiais e suscitaram a condenação de outros líderes que estão a contar com o fim de uma era de décadas de liberalização do comércio.
No Japão, um dos principais parceiros comerciais dos Estados Unidos, o primeiro-ministro, Shigeru Ishiba, disse que as tarifas criaram uma "crise nacional", já que a queda das acções dos bancos, esta sexta-feira, colocou a bolsa de Tóquio a caminho da sua pior semana em anos.
O banco de investimento JP Morgan disse que vê agora 60% de hipóteses de a economia global entrar em recessão até ao final do ano face aos anteriores 40%.
Mas houve mensagens contraditórias da Casa Branca sobre se as tarifas se destinavam a ser permanentes ou eram uma táctica para ganhar concessões, com Trump a dizer que estas "dão-nos grande poder para negociar".
As tarifas norte-americanas representariam as maiores barreiras comerciais em mais de um século: uma tarifa base de 10% sobre todas as importações e direitos mais altos direccionados a dezenas de países.
Isso poderia aumentar o preço para os compradores norte-americanos de tudo, desde a canábis aos ténis de corrida e ao iPhone da Apple. Um iPhone topo de gama poderá custar quase 2.300 dólares se a Apple transferir os custos para os consumidores, com base nas projecções da Rosenblatt Securities.
As empresas correm para se adaptar. O fabricante de automóveis Stellantis STLMA.MI disse que iria despedir temporariamente trabalhadores norte-americanos e fechar fábricas no Canadá e no México, enquanto que a General Motors GM.N disse que iria aumentar a produção nos Estados Unidos.
O primeiro-ministro canadiano, Mark Carney, afirmou que os Estados Unidos tinham abandonado o seu papel histórico de campeão da cooperação económica internacional.
"A economia global é hoje fundamentalmente diferente do que era ontem", afirmou, ao anunciar várias medidas de retaliação.
Por outro lado, a China prometeu retaliar as tarifas de 54% impostas por Trump sobre as importações da segunda maior economia do mundo, tal como a UE, que enfrenta uma taxa de 20%.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, apelou aos países europeus para suspenderem os investimentos nos Estados Unidos.
Outros parceiros comerciais, incluindo o Japão, a Coreia do Sul, o México e a Índia, disseram que iriam adiar qualquer retaliação por enquanto, enquanto procuram concessões. O ministro britânico dos Negócios Estrangeiros disse que estava a trabalhar para chegar a um acordo económico com os Estados Unidos.
Mas tanto os aliados como os rivais de Washington alertaram para um golpe devastador no comércio mundial.
Texto integral em inglês: nL5N3QH0HE