
Por Daria Sito-Sucic e Amel Emric
SARAJEVO/BRCKO, 21 Nov (Reuters) - Franjo Sola lembra-se do dia 21 de novembro de 1995 como o melhor dia de sua vida, quando um acordo de paz mediado pelos Estados Unidos pôs fim à guerra na Bósnia e permitiu que ele deixasse o Exército e voltasse a estudar na Universidade de Sarajevo.
"Jurei a mim mesmo que comemoraria esse dia como se fosse meu segundo aniversário", disse Sola esta semana, quando o país dos Bálcãs comemora o 30º aniversário do acordo de paz de Dayton, que pôs fim a um conflito étnico entre sérvios, croatas e bósnios que matou cerca de 100.000 pessoas depois que a Bósnia declarou independência da Iugoslávia.
Desde então, no entanto, o otimismo de Sola se esvaiu. Embora o acordo tenha mantido a paz, a Bósnia-Herzegóvina continua dividida em linhas étnicas, suas duas regiões mal se mantêm unidas por um governo fraco. A paz não trouxe prosperidade, e estima-se que centenas de milhares de jovens -- incluindo o filho de Sola -- tenham partido em busca de melhores perspectivas no exterior.
"Dayton foi bom para acabar com a guerra, mas... não foi bom para o desenvolvimento do país", disse Sola, que trabalha como especialista técnico para a EUFOR, a missão de manutenção da paz da UE que permanece no país para supervisionar a implementação do acordo de paz.
"Ele deve ser revisado, o país não pode mais funcionar assim."
CORRUPÇÃO E DIVISÃO ATRASAM A BÓSNIA
Os acordos de Dayton, que receberam o nome da cidade de Ohio onde foram ratificados, dividiram a Bósnia em duas regiões autônomas, a República Sérvia, dominada pelos sérvios ortodoxos, e a Federação, compartilhada por croatas católicos e bósnios muçulmanos. Uma presidência tripartite preside, mas tem pouco poder de facto.
O acordo manteve a paz, e a Bósnia agora está sendo considerada para se tornar membro da UE -- uma perspectiva impensável na década de 1990, quando grande parte da infraestrutura do país havia sido destruída pela guerra.
A economia teve alguns ganhos sólidos no pós-guerra, impulsionados pela ajuda que chegou para a reconstrução, e o crescimento anual hoje está acima de 2%. No entanto, o desenvolvimento é prejudicado pela corrupção e pela lentidão na tomada de decisões.
De acordo com relatórios não oficiais, pelo menos 600.000 pessoas deixaram o país nos últimos 12 anos, embora ninguém tenha um número exato porque o país não realiza um censo desde 2013.
A Bósnia continua dividida politicamente. Até que um tribunal estadual o proibiu de ocupar cargos públicos em fevereiro, Milorad Dodik, o ex-chefe da República Sérvia, há muito tempo tentava se separar da Bósnia e se juntar à Sérvia.
No vilarejo croata de Donja Skakava, no norte da Bósnia, muitas pessoas foram embora. A maioria dos croatas bósnios conseguiu obter passaportes croatas, o que lhes permitiu circular livremente pela UE.
"As pessoas não têm estabilidade econômica alguma. A situação piorou, não melhorou, depois de Dayton", disse o morador Anto Maticic, em frente aos restos de casas destruídas na guerra. Ele calcula que pelo menos 80% dos croatas da região norte de Posavina, na fronteira com a Croácia, tenham se mudado.
"Muitos deles reconstruíram suas casas, mas elas continuam vazias", disse ele.
(Reportagem de Daria Sito-Sucic e Amel Emric)
((Tradução Redação São Paulo))
REUTERS ES