
Por Steve Gorman e Daniel Trotta e Nandita Bose
6 Nov (Reuters) - Na guerra de redistribuição de distritos eleitorais que assola os Estados Unidos, os eleitores da Califórnia deram uma vitória aos democratas ao aprovarem uma medida eleitoral que pode garantir ao partido mais cinco cadeiras na Câmara e servir como contrapeso aos esforços republicanos no Texas e em outros Estados.
Mas as hostilidades políticas estão longe de terminar e provavelmente vão favorecer os republicanos, à medida que mais Estados aderem à corrida para redesenhar seus distritos eleitorais no meio do ciclo tradicional de dez anos, criando mais obstáculos para os democratas e disputas menos acirradas para ambos os partidos em todo o país.
Um alto funcionário da Casa Branca reconheceu que a vitória dos democratas exigirá uma resposta urgente dos republicanos, com planos em andamento para redesenhar os distritos eleitorais e convocar sessões legislativas especiais em vários Estados.
A aprovação da chamada Proposta 50, com 64% dos votos na eleição de terça-feira, também representa uma vitória para o governador da Califórnia, Gavin Newsom, antes de sua possível candidatura à presidência, em 2028.
Newsom impulsionou a medida para frustrar o que ele chamou de tomada de poder instigada pelo presidente Donald Trump, que havia desencadeado uma corrida de redistribuição de distritos eleitorais de costa a costa, sem precedentes na política norte-americana moderna e que poderia alterar o equilíbrio de poder no Capitólio.
PREJUÍZO À DEMOCRACIA
Uma pesquisa recente da Reuters/Ipsos revelou que 55% dos norte-americanos acreditam que o redesenho dos distritos eleitorais para maximizar ganhos políticos, uma prática conhecida como "gerrymandering", é prejudicial à democracia.
"Isso é uma corrida para o abismo", disse David Daley, autor de três livros sobre os efeitos antidemocráticos da manipulação partidária de distritos eleitorais.
O processo de redistribuição de distritos eleitorais -- o redesenho das fronteiras que definem os distritos congressionais de cada Estado -- tem sido tradicionalmente realizado uma vez por década, após o Censo dos EUA.
Mas a Casa Branca de Trump pressionou Estados governados por republicanos, começando pelo Texas, a reformular seus distritos eleitorais no meio da década, a fim de ajudar a preservar a maioria republicana de 219 a 216 nas eleições para o Congresso, no ano que vem.
Já os democratas iniciaram planos de redistribuição de distritos eleitorais em Illinois, Virgínia e Maryland, mas todos enfrentam obstáculos. Enquanto isso, os esforços republicanos avançaram em Ohio, Carolina do Norte e Missouri, e têm potencial em Indiana, Flórida, Nebraska, Kentucky e Nova Hampshire.
Mesmo com a Califórnia anulando o Texas, Daley disse que espera que os republicanos conquistem de sete a dez cadeiras em 2026, com mais Estados possivelmente entrando em disputa, dependendo de um caso de direitos de voto pendente perante a Suprema Corte dos EUA.
"Os republicanos ainda têm muitos outros Estados onde podem obter ganhos, e os democratas essencialmente ficaram sem opções", disse Daley.
Um alto funcionário da Casa Branca disse que os assessores de Trump estavam coordenando com os republicanos da Câmara a estratégia de redistribuição de distritos eleitorais e a alocação de recursos, observando que, em alguns distritos, uma mudança aparentemente pequena nos limites pode "transformar uma cadeira segura em uma disputa acirrada ou uma disputa acirrada em uma oportunidade clara".
"Não basta defender as cadeiras, precisamos expandi-las e recalibrar nos Estados onde os limites estão mudando", disse o funcionário. "Estamos avisando os membros que essas disputas sobre o mapa eleitoral terão repercussões nas jurisdições das comissões, nas discussões sobre financiamento federal e nos cálculos da maioria na Câmara."
Se a tendência continuar, quase todas as 435 cadeiras da Câmara poderão ser garantidas para um partido ou outro, deixando talvez de 12 a 16 disputas acirradas, disse Daley.
O processo de redistribuição de distritos eleitorais normalmente ocorre nas assembleias legislativas estaduais. Mas a Califórnia, que se orgulhava de um sistema bipartidário e independente para definir seus limites, adotado pelos eleitores em 2008, teve que submeter seus novos mapas a uma votação popular.
Newsom argumentou que uma medida temporária era necessária para combater as manobras republicanas em outros Estados. As regras anteriores de redistribuição de distritos voltarão a vigorar após 2030.
Os democratas, que já detêm 43 das 52 cadeiras da Califórnia na Câmara dos Representantes dos EUA, esperam que os novos mapas eleitorais lhes garantam cinco distritos adicionais em 2026.
Isso compensaria as cinco cadeiras adicionais que os republicanos devem ganhar no Texas após a nova organização de distritos aprovada pela legislatura e assinada pelo governador Greg Abbott em agosto.
Na terça-feira, Trump chamou a proposta de votação por correio da Califórnia de "inconstitucional" e disse que as cédulas enviadas pelo correio estavam sob "análise jurídica e criminal muito séria", sem apresentar qualquer prova para suas alegações.
Autoridades eleitorais da Califórnia pediram à administração Trump provas de quaisquer irregularidades. Em entrevista no X, Newsom chamou a postagem de Trump de "Os delírios de um velho que sabe que está prestes a PERDER".
Na cidade de Oceanside, Andrea Martin, de 27 anos, professora, disse que votou a favor da proposta para frear Trump.
"Estou preocupada que nos transformemos no país de onde vim, que é Cuba, uma ditadura repugnante", disse Martin.
Os republicanos votaram "não" em apoio ao seu presidente.
"Eu sou fã do 'Make America Great Again', fã do Charlie Kirk", disse Carla Jetton, 58, controladora de uma instituição financeira privada, referindo-se ao slogan político do presidente ("Faça a América Grande de Novo") e ao seu apoiador político, assassinado em Utah em setembro. "Eles só estão odiando o Trump, é por isso que ele (Newsom) está fazendo isso."
(Reportagem de Steve Gorman em Los Angeles, Daniel Trotta em Oceanside e Nandita Bose em Washington)
((Tradução Redação São Paulo))
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