EXCLUSIVO-China proíbe chips de IA estrangeiros em data centers estatais, dizem fontes

5 Nov (Reuters) - O governo chinês emitiu diretrizes exigindo que novos projetos de data centers que receberam financiamento estatal utilizem apenas chips de inteligência artificial fabricados no país, disseram à Reuters duas fontes familiarizadas com o assunto.

Nas últimas semanas, as autoridades reguladoras chinesas ordenaram que centros de dados com menos de 30% de conclusão removessem todos os chips estrangeiros instalados ou cancelassem os planos de compra, enquanto projetos em estágio mais avançado serão decididos caso a caso, disseram as fontes.

Essa medida pode representar uma das ações mais agressivas da China até o momento para eliminar tecnologia estrangeira (link) de sua infraestrutura crítica em meio a uma pausa nas hostilidades comerciais (link) entre Washington e Pequim, e alcançar sua busca pela autossuficiência em chips de IA.

O acesso da China a chips de IA avançados, incluindo os fabricados pela Nvidia NVDA.O, tem sido um ponto crucial de atrito com os EUA, à medida que os dois países disputam a hegemonia em poder computacional de ponta e IA.

O presidente dos EUA, Donald Trump, disse (link) em entrevista transmitida no domingo, após conversas com o presidente chinês Xi Jinping na semana passada, que Washington permitirá que eles negociem com a Nvidia, mas não em termos dos chips mais avançados.

A mais recente medida de Pequim, no entanto, frustraria as esperanças da Nvidia de recuperar participação no mercado chinês, ao mesmo tempo que daria às concorrentes locais, incluindo a Huawei (link), mais uma oportunidade para garantir mais vendas de chips.

Fontes disseram que não está claro se a orientação se aplica a todo o país ou apenas a determinadas províncias. As fontes não identificaram quais órgãos reguladores chineses emitiram a ordem e pediram para não serem identificadas devido à delicadeza do assunto.

Além da Nvidia, outros fabricantes estrangeiros de chips que vendem chips para centros de dados na China incluem a AMD AMD.O e a Intel INTC.O.

A Administração do Ciberespaço da China e a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, duas das agências reguladoras mais poderosas de Pequim, não responderam aos pedidos de comentários. A Nvidia e a AMD também não responderam, enquanto a Intel se recusou a comentar.

NVIDIA: A MAIOR VÍTIMA

De acordo com uma análise de licitações governamentais feita pela Reuters, projetos de data centers de IA na China atraíram mais de US$ 100 bilhões em financiamento estatal desde 2021. A maioria dos data centers na China recebeu algum tipo de financiamento estatal para auxiliar em sua construção, mas não está claro quantos projetos estão sujeitos às novas diretrizes.

Alguns projetos já foram suspensos antes mesmo do início das obras em decorrência da diretiva, incluindo uma instalação em uma província do noroeste que planejava implantar chips da Nvidia, disse uma das fontes.

O projeto, que estava sendo desenvolvido por uma empresa privada de tecnologia que recebeu financiamento estatal, foi suspenso, disse a fonte.

Pequim há muito tempo se incomoda com os controles de exportação de Washington, que visam impedir o progresso tecnológico da China, e tomou uma série de medidas, incluindo ações retaliatórias, para se desvencilhar da tecnologia norte-americana.

Os EUA justificaram suas restrições alegando que os militares chineses usariam os chips para aumentar suas capacidades.

A China desencorajou gigantes tecnológicos locais (link) da compra de chips avançados da Nvidia devido a preocupações com segurança neste ano, enquanto exibia (link) um novo centro de dados alimentado exclusivamente por chips de IA nacionais.

E em 2023, Pequim proibiu o uso dos produtos da Micron MU.O em sua infraestrutura crítica, o que abriu caminho para a decisão, este ano, da maior fabricante de chips de memória dos EUA de sair do mercado de chips para servidores na China, informou a Reuters (link) no mês passado.

O presidente-executivo da Nvidia, Jensen Huang, tem feito lobby repetidamente (link) junto a Trump e seu gabinete para autorizar a venda de mais chips de IA para a China, argumentando que manter a indústria de IA de sua rival superpotência dependente de hardware norte-americano era bom para os interesses dos Estados Unidos.

De acordo com a empresa, sua participação atual no mercado chinês de chips de IA é zero, em comparação com 95% em 2022.

Excluir fabricantes estrangeiros de chips como a Nvidia de grandes projetos estatais eliminaria uma parcela significativa de sua receita na China, mesmo com um acordo que permita a retomada das vendas de chips avançados para o país.

As novas diretrizes sobre centros de dados abrangem os chips H20 da Nvidia, o chip de IA mais avançado que a empresa norte-americana está autorizada a vender para a China, mas também processadores mais potentes, como o B200 e o H200, disseram as fontes.

Embora os modelos B200 e H200 sejam proibidos de serem enviados para a China pelos controles de exportação dos EUA, eles continuam amplamente disponíveis na China por meio de canais de mercado paralelo (link).

BENEFÍCIOS E RISCOS PARA EMPRESAS NACIONAIS

Com a mais recente diretiva, o governo chinês está ampliando ainda mais a fatia de mercado para os fabricantes nacionais de chips. A China possui uma gama de empresas de chips de IA, desde a mais proeminente, a Huawei Technologies, até empresas menores, como a Cambricon, listada na Bolsa de Valores de Xangai (link) 688256.SS e startups (link) incluindo MetaX, Moore Threads e Enflame.

Os produtos dessas empresas chinesas já rivalizam (link) com algumas das ofertas da Nvidia, porém, têm tido dificuldades para conquistar o mercado. Os desenvolvedores acostumados com o ecossistema de software confiável da Nvidia têm se mostrado relutantes em adotar alternativas nacionais (link).

Embora a medida possa ajudar a impulsionar as vendas de chips desenvolvidos internamente, ela também corre o risco de ampliar a disparidade entre os EUA e a China em termos de poder computacional de IA.

Gigantes da tecnologia dos EUA, como Microsoft, Meta e OpenAI, gastaram ou destinaram centenas de bilhões de dólares (link) para construir centros de dados equipados com os chips mais avançados da Nvidia.

Entretanto, os principais fabricantes chineses de chips, como a SMIC, estão enfrentando restrições de fornecimento devido às sanções dos EUA (link) sobre equipamentos de fabricação de semicondutores que atingiram a capacidade avançada de produção de chips.