
Por Doyinsola Oladipo e Matt Spetalnick
NAÇÕES UNIDAS, 26 Set (Reuters) - O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, criticou duramente os países ocidentais na sexta-feira por abraçarem a condição de Estado palestino, acusando-os de enviar a mensagem de que "matar judeus compensa".
Em discurso na Assembleia Geral da ONU, o líder israelense rebateu em termos duros uma série de medidas diplomáticas de importantes aliados dos EUA que aprofundaram o isolamento internacional de Israel devido à condução da guerra de quase dois anos contra os militantes do Hamas em Gaza.
"Esta semana, os líderes de França, Reino Unido, Austrália, Canadá e outros países reconheceram incondicionalmente um Estado palestino. Eles fizeram isso após os horrores cometidos pelo Hamas em 7 de outubro -- horrores elogiados naquele dia por quase 90% da população palestina."
Chamando de "marca da vergonha", Netanyahu disse: "Vocês sabem qual mensagem os líderes que reconheceram o Estado palestino esta semana enviaram aos palestinos? É uma mensagem muito clara: matar judeus compensa."
Com mais países se juntando à lista dos que endossam a independência palestina, o governo mais direitista da história de Israel fez sua declaração mais forte até agora de que não haverá Estado palestino, à medida que avança em sua luta contra o Hamas após o ataque de 7 de outubro de 2023 contra Israel. Os combatentes liderados pelo Hamas mataram cerca de 1.200 pessoas, de acordo com os registros israelenses.
A resposta militar de Israel deixou mais de 65.000 mortos em Gaza, de acordo com autoridades de saúde locais, e deixou grande parte do território em ruínas.
DEZENAS DE DELEGADOS SAEM ANTES DO DISCURSO
Dezenas de delegados saíram do salão quando Netanyahu subiu ao palco, enquanto outros se levantaram para aplaudí-lo de pé. Ao mesmo tempo, milhares de manifestantes pró-palestinos bloquearam o trânsito perto da Times Square, em Nova York.
"Com o tempo, muitos líderes mundiais se curvaram. Eles se curvaram sob a pressão de uma mídia tendenciosa, de grupos radicais islâmicos e de multidões antissemitas. Há um ditado conhecido que diz que, quando as coisas ficam difíceis, os duros continuam. Bem, para muitos países aqui, quando as coisas ficaram difíceis, vocês cederam", disse Netanyahu.
"Atrás de portas fechadas, muitos dos líderes que nos condenam publicamente nos agradecem em particular. Eles me dizem o quanto valorizam os excelentes serviços de inteligência de Israel que impediram, repetidas vezes, ataques terroristas em suas capitais."
O escritório de mídia do governo de Gaza, administrado pelo Hamas, disse em um comunicado que o discurso de Netanyahu estava "cheio de mentiras e contradições flagrantes" e o condenou como uma "tentativa desesperada de justificar os crimes de guerra e atos de genocídio".
A frustração com o cerco militar de Israel e a relutância do presidente dos EUA, Donald Trump, em controlar Netanyahu, se manifestaram abertamente na reunião anual de Nova York, onde, em uma mudança dramática, Austrália, Reino Unido, Canadá e França e várias outras nações abraçaram um Estado palestino.
Eles disseram que essa ação era necessária para preservar a perspectiva de uma solução de dois Estados para o conflito israelense-palestino e ajudar a encerrar a guerra.
Netanyahu subiu à tribuna após líderes árabes e muçulmanos que, nesta semana, acusaram Israel de genocídio e crimes de guerra em Gaza. O governo israelense nega veementemente essa acusação.
O Tribunal Penal Internacional emitiu um mandado para Netanyahu por supostos crimes de guerra em Gaza. Israel rejeita a jurisdição do tribunal e nega ter cometido crimes de guerra em Gaza. Netanyahu refutou na sexta-feira o que chamou de "a falsa acusação de genocídio".
O Hamas ofereceu a libertação de todos os reféns restantes -- acredita-se que apenas cerca de 20 estejam vivos, de um total de 48 -- em troca de Israel concordar em encerrar a guerra e se retirar de Gaza.
NETANYAHU FALA AOS REFÉNS
"Grande parte do mundo não se lembra mais do dia 7 de outubro. Mas nós nos lembramos", disse Netanyahu. Falando em hebraico, o líder israelense dirigiu suas falas aos reféns ainda mantidos em Gaza: "Não nos esquecemos de vocês -- nem por um segundo".
Na quinta-feira, Trump disse aos repórteres que achava que um acordo para acabar com a guerra e libertar os reféns restantes mantidos pelo Hamas estava "próximo" -- embora não tenha oferecido nenhuma explicação para seu otimismo quanto à superação de um impasse de meses nas negociações.
(Reportagem de Michelle Nichols, Doyinsola Oladipo e Matt Spetalnick; reportagem adicional de Doina Chiacu)
((Tradução Redação São Paulo))
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