
Por David Shepardson
WASHINGTON, 19 Set (Reuters) - O chefe da Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês), principal órgão regulador de mídia dos Estados Unidos, Brendan Carr, provocou indignação e pedidos de renúncia por parte de parlamentares democratas e outros críticos depois de pressionar a Walt Disney DIS.N a parar de apresentar um programa de entrevistas noturno.
Mas seu ataque ao comediante Jimmy Kimmel foi apenas o mais recente de uma série de esforços para controlar as empresas de mídia que ele acusa de preconceito.
Nos oito meses de mandato de Carr como presidente da FCC, ele reimaginou a função, usando-a como um púlpito para pressionar as empresas de mídia a fazerem mudanças nas políticas ou na programação enquanto argumenta que elas têm sido injustas com o presidente norte-americano, Donald Trump.
"Há mais por vir", disse ele na quinta-feira.
Ele também usou o poder da comissão para aprovar fusões como um bastão, abriu investigações e enviou cartas às empresas de produtos, enquanto Trump repreendia e ameaçava as emissoras, inclusive com repetidos pedidos para que perdessem suas licenças, apesar das proteções da Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos para as emissoras.
"Os americanos não confiam mais na mídia nacional legada para fazer reportagens completas, precisas e justas. É hora de mudar", disse Carr em julho.
Carr foi imediatamente criticado por alguns comentaristas conservadores, bem como por muitos democratas, por ter pressionado a Disney e as emissoras locais a abandonarem o programa do apresentador de TV Jimmy Kimmel após os comentários que o comediante fez sobre o ativista de direita assassinado Charlie Kirk.
O líder democrata da Câmara dos Deputados dos EUA, Hakeem Jeffries, e o líder democrata do Senado, Chuck Schumer, estavam entre os vários parlamentares que pediram a renúncia de Carr. Carr, que não respondeu a um pedido de comentário, disse a um podcaster na quinta-feira que não se demitiria. "Não vou a lugar algum", disse ele.
A comissária democrata da FCC, Anna Gomez, disse na quinta-feira, em entrevista à Reuters, que a FCC não tem a autoridade ou o direito constitucional de policiar o conteúdo ou punir as emissoras por discursos que desagradam ao governo, e que Carr está tentando usar indevidamente o padrão de "interesse público".
"Ele está distorcendo o interesse público para significar o que quiser, a fim de acabar com a liberdade de expressão das emissoras", disse Gomez. "A essa altura, parece que ele está apenas tentando usar isso como desculpa para censurar o conteúdo de que não gosta."
Carr disse às emissoras na quarta-feira: "Podemos fazer isso da maneira fácil ou da maneira difícil".
"Essas empresas podem encontrar maneiras de agir em relação a Kimmel ou a FCC terá mais trabalho pela frente", disse ele.
É raro usar o poder presidencial dessa forma para restringir o discurso. No início da década de 1970, o então presidente Richard Nixon e seus principais assessores discutiram o uso do processo de renovação de licenças da FCC para punir o Washington Post por sua cobertura do roubo de Watergate, que acabou derrubando-o da Presidência.
Trump voltou a ameaçar as emissoras na quinta-feira pelo que chamou de cobertura negativa, dessa vez dizendo: "Eles estão recebendo uma licença, eu acharia que talvez a licença deles devesse ser retirada. Isso ficará a cargo de Brendan Carr".
Em julho, a FCC aprovou a fusão de US$8,4 bilhões entre a Paramount Global PARA.O, controladora da CBS, e a Skydance Media, depois que a Skydance concordou em garantir que a programação de notícias e entretenimento da CBS não seja tendenciosa e em contratar um ouvidor por pelo menos dois anos para analisar as reclamações e encerrar os programas de diversidade.
"Os novos proprietários da CBS chegaram e disseram: 'Está na hora de mudar. Vamos reorientá-la no sentido de nos livrarmos dos preconceitos'", disse Carr após aprovar o acordo. "No final das contas, foi isso que fez a diferença para nós."
((Tradução Redação São Paulo))
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