Por Phil Stewart e Idrees Ali
WASHINGTON, 18 Set (Reuters) - O objetivo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de reocupar a base aérea de Bagram, no Afeganistão, pode acabar parecendo uma reinvasão do país, exigindo mais de 10.000 soldados, bem como a implantação de defesas aéreas avançadas, segundo autoridades e ex-autoridades dos EUA.
Trump, falando aos repórteres nesta quinta-feira durante uma viagem a Londres, disse "queremos aquela base de volta" e citou o que ele chamou de sua localização estratégica perto da China.
"Está a uma hora de distância de onde a China fabrica suas armas nucleares", disse Trump.
O amplo campo de aviação foi a principal base das forças americanas no Afeganistão durante as duas décadas de guerra que se seguiram aos ataques de 11 de setembro de 2001 em Nova York e Washington pela Al Qaeda.
Trump, que já disse anteriormente que deseja que os Estados Unidos adquiram territórios e locais que vão desde o Canal do Panamá até a Groenlândia, parece interessado em Bagram há anos.
Ele deu a entender nesta quinta-feira que os EUA poderiam adquirir a base com algum tipo de consentimento do Taliban, mas não ficou claro que forma esse acordo poderia assumir. Seria uma reviravolta notável para o Taliban, que lutou para expulsar as tropas dos EUA e retomar o país de um governo apoiado pelos EUA.
A base já teve restaurantes de fast-food, como Burger King e Pizza Hut, que atendiam às tropas norte-americanas, além de lojas que vendiam de tudo, de eletrônicos a tapetes afegãos. Ela também abrigava um enorme complexo penitenciário.
Uma autoridade dos EUA, falando sob condição de anonimato, disse que não havia nenhum planejamento ativo para assumir militarmente a base aérea de Bagram, que os EUA abandonaram junto com o resto do país quando se retiraram do Afeganistão em 2021.
A autoridade disse que qualquer esforço para recuperar a base seria um empreendimento significativo.
A autoridade disse que seriam necessárias dezenas de milhares de tropas para tomar e manter a base aérea de Bagram, um esforço dispendioso para reparar a base e uma dor de cabeça logística para reabastecer a base -- que seria um enclave isolado dos EUA em um país sem litoral.
Mesmo depois que os militares dos EUA assumissem o controle da base, seria necessário um grande esforço para limpar e manter o enorme perímetro ao redor dela para evitar que a área fosse usada para lançar ataques com foguetes contra as forças norte-americanas no interior.
"Não vejo como isso pode acontecer de forma realista", disse a autoridade.
Especialistas afirmam que seria difícil proteger a extensa base aérea no início e que seria necessária uma grande quantidade de mão de obra para operá-la e protegê-la.
Mesmo que o Taliban aceitasse a reocupação de Bagram pelos EUA após as negociações, ela precisaria ser defendida de uma série de ameaças, incluindo militantes do Estado Islâmico e da Al Qaeda no Afeganistão.
Também poderia ser vulnerável a uma ameaça de mísseis avançados do Irã, que atacou uma importante base aérea dos EUA no Catar em junho, depois que os Estados Unidos atacaram as instalações nucleares iranianas.
Uma ex-autoridade sênior da defesa dos EUA minimizou os benefícios da retomada da base, incluindo a proximidade da base com a China, que foi elogiada por Trump.
"Não acho que haja uma vantagem militar específica em estar lá", disse a ex-autoridade. "Os riscos meio que superam as vantagens."
Em fevereiro, Trump reclamou que Biden havia desistido da base e disse que havia um plano para manter uma pequena força dos EUA lá, embora seu acordo de fevereiro de 2020 com o Taliban exigisse a retirada de todas as forças internacionais lideradas pelos EUA.
Os comentários de Trump foram feitos no momento em que o Pentágono está realizando uma análise da retirada caótica dos Estados Unidos do Afeganistão em 2021, que muitos líderes de seu governo consideraram uma distração dos desafios maiores enfrentados pelos Estados Unidos -- como a concorrência da China.
No fim de semana, autoridades dos EUA conversaram com autoridades em Cabul sobre os norte-americanos detidos no Afeganistão.
Adam Boehler, enviado especial do governo Trump para reféns, e Zalmay Khalilzad, ex-enviado especial dos EUA para o Afeganistão, reuniram-se com o ministro das Relações Exteriores do Taliban, Amir Khan Muttaqi.
((Tradução Redação São Paulo))
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