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EUA e Israel criticam funcionários da ONU sobre postura na guerra de Gaza em meio a protestos, mostram documentos

Reuters18 de set de 2025 às 16:40

Por Emma Farge e Olivia Le Poidevin

- Estados Unidos e Israel enviaram cartas de reclamação às principais autoridades da ONU contestando a imparcialidade de seus funcionários em relação à guerra de Gaza, segundo documentos, conforme centenas de funcionários da ONU protestavam do lado de fora de sua sede europeia nesta quinta-feira.

Funcionários da ONU carregavam cartazes com os dizeres "Paz para Gaza" e "Não é um alvo". Eles colocaram mais de 370 rosas brancas ao lado de uma placa memorial em Genebra para representar cada trabalhador humanitário da ONU morto na guerra de quase dois anos.

"Hoje, os funcionários da ONU estão se reunindo para dizer que já chega, para dizer que não podemos matar nossos pares em Gaza com tanta impunidade e para dizer basta a todos esses assassinatos", disse Nathalie Meynet, presidente do conselho de funcionários da agência de refugiados da ONU, à Reuters durante o protesto.

As cartas destacam as crescentes tensões entre a ONU e seu principal financiador, os EUA, que já se desligaram do Conselho de Direitos Humanos da ONU devido ao que Washington diz ser sua posição anti-Israel.

EMBAIXADOR DE ISRAEL NA ONU DENUNCIA EVENTO

O embaixador de Israel na ONU em Genebra, Daniel Meron, escreveu antes do evento para a diretora-geral do escritório das Nações Unidas em Genebra, Tatiana Valovaya, denunciando o evento.

"Os funcionários da ONU não são ativistas ou atores políticos... Aqueles que incitam e participam de tais atividades de cunho político devem enfrentar medidas disciplinares, inclusive suspensão", dizia sua carta datada de 10 de setembro.

Séverine Deboos, uma das organizadoras do evento, negou que seu objetivo fosse político: "A mensagem é em homenagem aos nossos pares (em Gaza) e para agradecê-los", disse ela.

Israel afirma que toma cuidado para evitar mortes de civis em sua guerra contra o Hamas.

"GRAVE VIOLAÇÃO DA NEUTRALIDADE"

Várias centenas de pessoas participaram do protesto e fizeram um minuto de silêncio sob o sol forte de Genebra do lado de fora do prédio da ONU.

No início desta semana, mil funcionários da ONU participaram de um briefing online com Francesca Albanese -- uma especialista independente da ONU cujas críticas a Israel levaram a sanções dos EUA.

Tanto Meron, de Israel, quanto a encarregada de Negócios dos EUA, Tressa Finerty, reclamaram com Valovaya sobre a ligação, e a última disse em seu email de 16 de setembro que o assunto também seria abordado com o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres.

"Essa é uma grave violação do princípio de neutralidade da ONU em vários níveis", disse Finerty em um email.

"Se funcionários da ONU durante o dia de trabalho da ONU, usando endereços de email da ONU e computadores da ONU em smartphones fornecidos pela ONU, participarem dessa reunião do Teams, não haverá como evitar a acusação de que a ONU é sistemática e exclusivamente anti-Israel e, por causa disso, antissemita."

Um membro do sindicato dos funcionários confirmou a reunião de Albanese, mas disse que ela envolveu o trabalho principal da ONU.

A missão diplomática dos EUA em Genebra não quis comentar. Um porta-voz da ONU não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

PERDAS SEM PRECEDENTES DE FUNCIONÁRIOS DA ONU NA GUERRA DE GAZA

Desde o início do conflito entre Israel e Hamas, em 7 de outubro de 2023, cerca de 543 trabalhadores humanitários foram mortos em Gaza, incluindo 373 funcionários e membros de equipes da ONU, de acordo com dados da ONU, tornando a escala de perdas sem precedentes nos 80 anos de história do órgão.

De acordo com os Padrões de Conduta para o Serviço Civil Internacional adotados pela ONU, os funcionários são aconselhados a não tomar partido ou expressar suas convicções publicamente sobre assuntos controversos.

Representantes do corpo de funcionários da ONU receberam uma nota da administração em 17 de setembro solicitando que permanecessem imparciais em relação ao conflito em Gaza, segundo um memorando confidencial visto pela Reuters.

Em 17 de setembro, a subsecretária-geral de Estratégia de Gestão, Política e Conformidade, Catherine Pollard, reconheceu que a perda de pares havia causado "imenso sofrimento", acrescentando: "Gostaria de lembrá-los de que as associações de funcionários não devem organizar ou promover atividades que possam ser consideradas de natureza política", dizia a carta, alertando sobre os riscos para a organização.

Yousra Ahmed, uma funcionária da ONU presente no protesto, disse: "Não é uma questão de neutralidade. Estou apenas indignada com o fato de as regras das Nações Unidas e do direito humanitário não estarem sendo aplicadas."

(Reportagem de Emma Farge, Olivia Le Poidevin e Cecile Mantovani)

((Tradução Redação São Paulo))

REUTERS AC

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