Por Alan Charlish e Lidia Kelly
VARSÓVIA, 10 Set (Reuters) - A Polônia abateu drones em seu espaço aéreo nesta quarta-feira com o apoio de aeronaves militares de seus aliados da Otan, a primeira vez que se sabe que um membro da aliança militar ocidental disparou tiros durante a guerra da Rússia na Ucrânia.
O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, disse ao Parlamento que foi "o mais próximo que estivemos de um conflito aberto desde a Segunda Guerra Mundial", embora ele também tenha dito que não tem "nenhuma razão para acreditar que estamos à beira da guerra".
Moscou negou a responsabilidade pelo incidente, e um diplomata sênior na Polônia afirmou que os drones vieram da direção da Ucrânia.
Os líderes europeus, que ultimamente têm tentado persuadir o presidente dos EUA, Donald Trump, a se juntar a eles no endurecimento das sanções contra a Rússia e no aumento do apoio a Kiev, disseram que isso justifica uma resposta coletiva. Não houve resposta imediata de Washington.
A Polônia afirmou que 19 objetos entraram em seu espaço aéreo durante um grande ataque aéreo russo à Ucrânia e que abateu aqueles que representavam uma ameaça. Tusk chamou o incidente de "provocação em grande escala" e disse que havia ativado o Artigo 4 do tratado da Otan, segundo o qual os membros da aliança podem exigir consultas com seus aliados.
Um porta-voz da Otan disse que o chefe da Otan, Mark Rutte, estava em contato com a liderança polonesa e que a aliança estava consultando a Polônia de perto.
Uma fonte declarou que a Otan não estava tratando o incidente como um ataque, mas como uma incursão intencional. Caças F-16 poloneses, F-35s holandeses, aviões de vigilância AWACS italianos e aeronaves de reabastecimento em pleno ar operadas em conjunto pela Otan estiveram envolvidos na operação noturna, de acordo com a fonte.
Segundo a agência de notícias estatal RIA, Andrey Ordash, encarregado de negócios da Rússia na Polônia, chamou as acusações de incursão de "infundadas" e disse que a Polônia não havia dado nenhuma evidência de que os drones abatidos eram de origem russa.
O Kremlin se recusou a comentar diretamente sobre a derrubada dos drones, mas o porta-voz Dmitry Peskov disse: "os líderes da UE e da Otan acusam a Rússia de provocações diariamente. Na maioria das vezes, sem sequer tentar apresentar pelo menos algum tipo de argumento".
Durante o incidente, o Comando Operacional das Forças Armadas da Polônia pediu aos moradores que ficassem em casa, com três regiões do leste em risco especial.
Vários aeroportos poloneses foram temporariamente fechados, incluindo um que tem sido usado como o principal ponto de acesso para autoridades ocidentais e suprimentos que viajam para a Ucrânia por terra.
Rutte, da Otan, disse que ainda não havia sido feita uma avaliação completa do incidente, mas acrescentou que, "quer tenha sido intencional ou não, é absolutamente imprudente, é absolutamente perigoso".
Os países que fazem fronteira com a Ucrânia relataram que mísseis ou drones russos ocasionais entraram em seu espaço aéreo no passado durante a guerra, mas não em uma escala tão grande, e não se sabe se eles os abateram. Duas pessoas foram mortas na Polônia em 2022 por um míssil de defesa aérea ucraniano que se extraviou.
Imagens da Reuters mostraram um ponto enegrecido em um campo marrom no sudeste da Polônia onde os drones caíram.
Desde a criação da Otan em 1949, o Artigo 4 foi invocado sete vezes, mais recentemente em fevereiro de 2022, após a invasão da Ucrânia pela Rússia.
"A guerra da Rússia está aumentando, não terminando. Devemos aumentar o custo para Moscou, fortalecer o apoio à Ucrânia e investir na defesa da Europa", disse a principal diplomata da UE, Kaja Kallas.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, afirmou que a Rússia usou 415 drones e 40 mísseis em ataques contra a Ucrânia durante a noite, acrescentando que pelo menos oito drones shahed de fabricação iraniana foram apontados para a Polônia.
"Um precedente extremamente perigoso para a Europa", disse ele. "É necessária uma resposta forte - e só pode ser uma resposta conjunta de todos os parceiros: Ucrânia, Polônia, todos os europeus e os EUA."
(Reportagem de Lidia Kelly, David Shepardson, Steve Gorman, Andrea Shalal, Alan Charlish, Marek Strzelecki, Pawel Florkiewicz, Sabine Siebold, Andrew Gray)
((Tradução Redação São Paulo))
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