SÃO PAULO, 9 Set (Reuters) - A indústria brasileira produziu 247 mil carros, comerciais leves, caminhões e ônibus em agosto, uma alta de 3% sobre o volume de julho, mas as vendas caíram 7,3%, para 225,4 mil unidades, segundo dados da associação de montadoras, Anfavea.
Na comparação com agosto do ano passado, a produção caiu 4,8% e os emplacamentos recuaram 5,1%.
No acumulado de janeiro ao final do mês passado, o volume produzido somou 1,74 milhão de veículos, alta de 6% sobre o desempenho dos primeiros oito meses de 2024. Nos licenciamentos, o acumulado mostra alta de 2,8%, para 1,67 milhão de unidades, segundo os dados da Anfavea.
Segundo o presidente da entidade, Igor Calvet, o crescimento nas vendas no acumulado "é tímido", dada a previsão da Anfavea, revisada para baixo no início de agosto, de expansão de 5%.
O executivo citou o peso dos juros sobre as vendas de veículos, que tem impactado com força caminhões, cujo segmento amargou em agosto uma queda de cerca de 23% sobre um ano antes, acumulando nos oito primeiros meses de 2025 um recuo de 6,7%.
Os juros elevados também começam a se fazer sentir no segmento de comerciais leves, que em agosto apurou o segundo mês consecutivo de queda na produção, pressionado principalmente por pequenas picapes de entrada, segundo os dados da Anfavea.
"Temos visto uma mudança no consumo no varejo. O pequeno comerciante, que usa comerciais leves de entrada, temos visto queda nas vendas para eles e a principal causa é a taxa de juros que o faz adiar a compra", disse Calvet.
CARRO SUSTENTÁVEL
A Anfavea afirmou ainda que o programa "Carro Sustentável", lançado pelo governo federal em meados de julho, elevou em 26% as vendas dos seis modelos enquadrados sobre o volume comercializado pelos mesmos veículos um ano antes. As vendas no programa entre 11 de julho e 31 de agosto somaram 70,4 mil unidades este ano.
Carros das montadoras GM, Stellantis STLAM.MI, Volkswagen VOWG.DE, Hyundai 005380.KS e Renault RENA.PA estão enquadrados no programa, que reduziu alíquotas de IPI sobre eles e vai até o final de 2026.
"A indústria ainda precisa desse segmento e não pode viver apenas de elétricos e SUVs", disse Calvet ao ser questionado sobre um possível desaparecimento do segmento após o final da vigência do programa.
"O Brasil é um país de renda média-baixa e esse (Carro Sustentável) é um produto que as montadoras precisam manter no portfólio", acrescentou.
MERCADO EXTERNO
A Anfavea afirmou que as exportações de agosto tiveram o melhor desempenho desde junho de 2018, com um volume de 57,1 mil veículos, um crescimento de 49,3% sobre o mesmo mês de 2024. No ano até o final do mês passado, as vendas externas mostram avanço de 55,9%, a 378,2 mil unidades, fortemente impulsionadas pelo consumo do mercado argentino.
"Nos chama atenção o fato de que a Argentina passa a ter importância ainda maior para nós. A Argentina era 36% das nossas exportações e agora 59%", disse Calvet, se referindo à mudança na variação percentual desde agosto de 2024 a agosto deste ano.
"O bom resultado das exportações é o que tem sustentado a produção local", disse Calvet, citando necessidade antiga do Brasil de conseguir diversificar suas vendas externas, algo agravado em meio ao ambiente de guerra comercial e pressão de importações da China.
Segundo os dados da Anfavea, em agosto, as importações de veículos da China foram as maiores já registradas no país e ultrapassaram pela primeira vez os volumes daqueles trazidos da Argentina. No mês passado, os emplacamentos de importados da China somaram 17,5 mil veículos ante 13,4 mil da Argentina. Em julho, foram 18,7 mil veículos argentinos e 16,9 mil chineses.
Os emplacamentos de veículos produzidos na China ficaram com uma fatia de 7,8% das vendas no mercado interno em agosto, segundo a Anfavea, maior fatia já registrada pelo país.
Grande parte dessas importações são de veículos eletrificados (híbridos ou puramente elétricos), mas Calvet comemorou que a participação da produção nacional nas vendas dessa categoria no mercado interno chegou a 25% em agosto ante 15% um ano antes.
"Isso surpreende porque em um ano cresceu 10 pontos percentuais", disse Calvet, comentando que o movimento foi acelerado em parte pela pressão das importações sobre as montadoras instaladas no Brasil.
Apesar disso, do total das 657 mil vendas de carros no varejo no acumulado deste ano, 504 mil foram de veículos nacionais, uma queda de 9,3% sobre um ano antes. No caso da venda dos automóveis importados no varejo, houve um crescimento de 17,3%, para 153 mil unidades, segundo a Anfavea.
Questionado sobre o anúncio na véspera da General Motors GM.N, de que vai produzir o utilitário esportivo elétrico Spark no Ceará por meio de importação de kits de peças prontas da China, Calvet afirmou que a Anfavea nos últimos meses não foi contra os chamados CKD, mas contra a redução do imposto de importação desses kits, como vinha sendo buscado pela chinesa BYD 002594.SZ.