NAÇÕES UNIDAS, 22 Ago (Reuters) - A cidade de Gaza e as áreas circundantes estão oficialmente a sofrer de fome e é provável que esta se alastre, segundo determinou, esta sexta-feira, um observatório mundial da fome, avaliação que irá aumentar a pressão sobre Israel para que permita a entrada de mais ajuda no enclave palestiniano.
O sistema de Classificação Integrada das Fases de Segurança Alimentar (IPC) afirmou que 514.000 pessoas - quase um quarto dos palestinianos em Gaza - estão a passar fome, devendo o número aumentar para 641.000 até ao final de Setembro.
Cerca de 280.000 dessas pessoas encontram-se numa região do norte que abrange a cidade de Gaza - conhecida como província de Gaza - que, segundo o IPC, se encontra em situação de fome na sequência de quase dois anos de guerra entre Israel e militantes palestinianos do Hamas.
Foi a primeira vez que o IPC registou uma situação de fome fora de África e o grupo mundial previu que as condições de fome se estenderiam às zonas centrais e do sul de Deir al-Balah e Khan Younis até ao final do próximo mês.
Acrescentou que a situação mais a norte pode ser ainda pior que na cidade de Gaza, mas disse que os dados limitados impediam qualquer classificação exacta.
Israel considerou o relatório falso e tendencioso, afirmando que o IPC tinha baseado o seu estudo em dados parciais fornecidos em grande parte pelo Hamas, que não tinham em conta um recente afluxo de alimentos.
"Não há fome em Gaza", afirmou o Ministério israelita dos Negócios Estrangeiros em comunicado.
Para que uma região seja classificada como estando em situação de fome, é necessário que pelo menos 20% da população sofra de carências alimentares extremas, que uma em cada três crianças sofra de subnutrição aguda e que duas pessoas em cada 10.000 morram diariamente de fome ou de subnutrição e doença.
Anteriormente, o IPC só tinha registado situações de fome na Somália, no Sudão do Sul e no Sudão.
Mesmo que uma região ainda não tenha sido classificada como estando em situação de fome por não terem sido atingidos esses limiares, o IPC pode determinar que as famílias dessa região estão a sofrer condições de fome, que descreve como fome, miséria e morte.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou, em comunicado, que a fome em Gaza é um "desastre provocado pelo homem, uma acusação moral e um fracasso da própria humanidade".
Guterres apelou a um cessar-fogo imediato, à libertação de todos os reféns ainda detidos pelo Hamas e a um acesso humanitário sem restrições.
"As pessoas estão a morrer à fome. As crianças estão a morrer. E aqueles que têm o dever de agir estão a falhar... Não podemos permitir que esta situação continue impunemente".
O chefe dos direitos humanos da ONU, Volker Türk, afirmou que a fome em Gaza é o resultado directo das acções do governo israelita e advertiu que as mortes por fome podem constituir um crime de guerra.
Texto integral em inglês: nL1N3UE08S