CAIRO/JERUSALÉM, 11 Ago (Reuters) - Um importante jornalista da Al Jazeera, que já tinha sido ameaçado por Israel, foi morto juntamente com quatro colegas num ataque aéreo israelita, no domingo, num ataque condenado por jornalistas e grupos de defesa dos direitos humanos.
As forças armadas israelitas afirmaram ter visado e matado Anas Al Sharif, alegando que este dirigia uma célula do Hamas e estava envolvido em ataques com rockets contra Israel.
A Al Jazeera rejeitou a alegação e, antes da sua morte, Al Sharif tinha também rejeitado anteriores alegações de Israel de que estaria ligado ao Hamas.
Al Sharif, de 28 anos, fazia parte de um grupo de quatro jornalistas da Al Jazeera e um assistente que morreram num ataque a uma tenda perto do Hospital Shifa, na zona oriental da cidade de Gaza, informaram responsáveis de Gaza e a Al Jazeera. Um responsável do hospital disse que duas outras pessoas também foram mortas no ataque.
Chamando a Al Sharif "um dos jornalistas mais corajosos de Gaza", a Al Jazeera disse que o ataque foi uma "tentativa desesperada de silenciar vozes em antecipação à ocupação de Gaza".
Os outros jornalistas mortos foram Mohammed Qreiqeh, Ibrahim Zaher e Mohammed Noufal, informou a Al Jazeera.
Al Sharif fazia parte de uma equipa da Reuters que, em 2024, ganhou um Prémio Pulitzer na categoria de "Breaking News Photography" pela cobertura da guerra Israel-Hamas.
Os militares israelitas afirmaram, num comunicado, que Al Sharif era o chefe de uma célula do Hamas e "era responsável pelo avanço de ataques com foguetes contra civis israelitas e tropas das FDI (Israelitas)", citando informações e documentos encontrados em Gaza como prova.
Os grupos de jornalistas e a Al Jazeera denunciaram as mortes.
Um grupo de defesa da liberdade de imprensa e um perito das Nações Unidas alertaram anteriormente para o facto de a vida de Al Sharif estar em perigo devido às suas reportagens a partir de Gaza. A relatora especial da ONU, Irene Khan, disse, no mês passado, que as alegações de Israel contra ele não tinham fundamento.
A Al Jazeera disse que Al Sharif tinha deixado uma mensagem nas redes sociais para ser publicada em caso de morte, que dizia: "... nunca hesitei em transmitir a verdade tal como ela é, sem distorção ou deturpação, esperando que Deus testemunhasse aqueles que permaneceram em silêncio".
Em Outubro, as forças armadas israelitas apontaram Al Sharif como um dos seis jornalistas de Gaza que alegadamente pertenciam ao Hamas e à Jihad Islâmica Palestiniana, citando documentos que, segundo as mesmas, mostravam listas de pessoas que tinham concluído cursos de formação e salários.
"A Al Jazeera rejeita categoricamente o retrato que as forças de ocupação israelitas fazem dos nossos jornalistas como terroristas e denuncia o uso que fazem de provas fabricadas", afirmou a emissora, num comunicado, na altura.
O Comité para a Protecção dos Jornalistas, que, em Julho, instou a comunidade internacional a proteger Al Sharif, afirmou, num comunicado, que Israel não tinha apresentado quaisquer provas que sustentassem as suas alegações contra ele.
Al Sharif, cuja conta no X tinha mais de 500.000 seguidores, publicou na plataforma, minutos antes da sua morte, que Israel estava a bombardear intensamente a cidade de Gaza há mais de duas horas.
O grupo militante palestiniano Hamas, que governa a Faixa de Gaza, disse que a morte pode ser o sinal do início de uma ofensiva israelita. "O assassinato de jornalistas e a intimidação dos que permanecem abre caminho a um grande crime que a ocupação planeia cometer na cidade de Gaza", afirmou o Hamas, em comunicado.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, afirmou que iria lançar uma nova ofensiva para desmantelar os bastiões do Hamas em Gaza, onde a crise de fome está a aumentar após 22 meses de guerra.
Texto integral em inglês: nL1N3U205Y