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Trump eleva tarifa do Brasil para 50%, mas isenta setores importantes do aumento

Reuters31 de jul de 2025 às 00:18

Por Luciana Magalhaes e Lisandra Paraguassu

- O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impôs nesta quarta-feira uma tarifa de 50% sobre a maioria dos produtos brasileiros para combater o que ele chamou de "caça às bruxas" contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, mas suavizou o golpe ao excluir setores como aeronaves, energia e suco de laranja das taxas mais pesadas.

As isenções vieram como um alívio para muitos no Brasil que vinham pedindo proteções para os principais exportadores pegos no fogo cruzado desde que Trump anunciou a tarifa no início do mês. As ações da fabricante de aviões Embraer EMBR3.SA e da produtora de papel e celulose Suzano SUZB3.SA fecharam em alta.

As novas tarifas entrarão em vigor em 6 de agosto, e não em 1º de agosto como Trump havia anunciado originalmente.

Em nota divulgada já na noite desta quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a motivação política das medidas contra o Brasil atenta contra a soberania nacional e a relação histórica entre os dois países.

"O governo brasileiro considera injustificável o uso de argumentos políticos para validar as medidas comerciais anunciadas pelo governo norte-americano contra as exportações brasileiras", diz o presidente.

Na nota, Lula reitera, no entanto, que "o Brasil segue disposto a negociar aspectos comerciais da relação com os Estados Unidos, mas não abrirá mão dos instrumentos de defesa do país previstos em sua legislação".

A nota foi divulgada após reunião emergencial com ministros convocada por Lula após a publicação do decreto com as medidas dos EUA.

Segundo uma fonte do Planalto, as medidas dos EUA foram recebidas pelo governo brasileiro como "menos piores" do que o esperado. A partir de agora, relatou a fonte, o Brasil deve analisar o "cardápio" oferecido por Trump do que o Brasil pode investir para tocar as negociações.

De acordo com essa fonte, ainda não há articulação em curso para a realização de ligação telefônica entre Lula e Trump.

MAIS BENIGNO

Em um informativo sobre o decreto de Trump nesta quarta-feira, a Casa Branca vinculou as tarifas ao processo judicial contra Bolsonaro, aliado de Trump e que está sendo julgado sob a acusação de planejar um golpe de Estado para reverter sua derrota eleitoral em 2022.

O decreto foi emitido no mesmo momento em que os EUA também anunciaram sanções contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do processo de Bolsonaro, acusando o magistrado de autorizar detenções arbitrárias antes dos julgamentos e de suprimir a liberdade de expressão.

O decreto de Trump formalizando uma tarifa de 50% excluiu dezenas de exportações brasileiras importantes para os EUA, incluindo aeronaves civis, ferro-gusa, metais preciosos, suco de laranja, madeira, energia e fertilizantes.

"Representa um cenário mais benigno do que poderia ser, mas não quer dizer que tenha um impacto pequeno ou que não sejam efeitos relevantes", disse o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, a repórteres.

A Embraer disse que uma revisão inicial da medida de Trump indicou que a tarifa de 10% imposta em abril permanece em vigor, com a exclusão se aplicando aos 40% adicionais.

As exceções são provavelmente uma resposta às preocupações das empresas norte-americanas, em vez de um passo atrás nos esforços de Trump para influenciar a política brasileira, disse Rafael Favetti, sócio da consultoria Fatto Inteligência Política.

"Isso também mostra que a diplomacia brasileira fez seu trabalho corretamente, trabalhando para aumentar a conscientização entre as empresas norte-americanas", disse.

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, se reuniu nesta quarta com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, para reafirmar a disposição do país em negociar as tarifas, em um sinal de que as negociações que haviam sido paralisadas em junho poderiam ser retomadas.

Vieira disse a repórteres após seu primeiro encontro com Rubio que enfatizou que os problemas judiciais de Bolsonaro não podem ser incluídos nas negociações. O Departamento de Estado dos EUA não respondeu imediatamente a um pedido de comentário sobre o encontro.

IMPACTO MENOR

Apesar das isenções, é muito cedo para comemorar, disse o ex-secretário de Comércio Exterior do governo brasileiro Welber Barral, estimando que o Brasil exporta cerca de 3.000 produtos diferentes para os EUA. "Vai haver um impacto", disse.

Uma análise da Câmara Americana de Comércio para o Brasil mostrou que quase 700 produtos foram isentos das tarifas mais altas, cobrindo 43,4% do valor total das exportações do Brasil para os EUA.

Entre as principais preocupações do governo Lula estava a Embraer, que exporta 45% de suas aeronaves comerciais e 70% de seus jatos executivos para os EUA.

Analistas também alertaram sobre um possível impacto grave na Suzano, uma das maiores produtoras de celulose do mundo.

As ações da Embraer subiram 11% na bolsa de São Paulo e a Suzano ganhou mais de 1%.

O Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) disse que os embarques de petróleo para os EUA, que haviam sido suspensos anteriormente, seriam retomados depois que os produtos petrolíferos foram listados como isentos das novas tarifas.

Já o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) afirmou que 75% das exportações de mineração foram cobertas pelas isenções.

O decreto de quarta-feira não incluiu isenções para carne bovina ou café, duas importantes exportações do Brasil para os EUA.

Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), que representa os produtores de carne bovina incluindo a JBS JBS3.SA e a Marfrig MRFG3.SA, disse que o grupo estima perdas de US$1 bilhão no segundo semestre deste ano devido às novas tarifas.

O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) afirmou em um comunicado que continuará trabalhando para que o café seja incluído entre as isenções.

E a batalha em torno das tarifas deve continuar, com a motivação política por trás delas fornecendo munição para os reclamantes que lançaram uma contestação judicial.

Alex Jacquez, que atuou no Conselho Econômico Nacional da Casa Branca sob o comando do ex-presidente Joe Biden, disse em um comunicado que as novas tarifas eram uma clara violação "tanto da lei quanto da própria política comercial declarada por Trump".

"Temos um superávit comercial com o Brasil -- essas tarifas punitivas não servirão para reequilibrar qualquer comércio injusto, servirão apenas para tornar uma xícara de café mais cara", disse.

(Reportagem de Luciana Magalhães, Gabriel Araújo e Ana Mano, em São Paulo; Lisandra Paraguassu e Marcela Ayres, em Brasília; Ismail Shakil, em Ottawa; e Kanishka Singh, em Washington; Texto de Manuela Andreoni)

((Tradução Redação Rio de Janeiro))

REUTERS PF MCM AC

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