Por David Stanway
CINGAPURA, 30 Jul (Reuters) - O terremoto de magnitude 8,8 na Rússia, que disparou alertas de tsunami no Pacífico, ocorreu no que é conhecido como "falha de megaimpacto", onde a Placa do Pacífico, mais densa, está deslizando por baixo da Placa Norte-Americana, mais leve, disseram cientistas.
A Placa do Pacífico está se movendo, tornando a área da Península de Kamchatka, na costa do Extremo Oriente da Rússia, onde ela atingiu, especialmente vulnerável a tais tremores -- e tremores secundários maiores não podem ser descartados, disseram os especialistas.
Com epicentro próximo à cidade de Petropavlovsk-Kamchatsky, foi o maior terremoto desde o devastador evento de Tohoku em 2011, que causou um tsunami que levou a usina nuclear de Fukushima Daiichi, no Japão, ao colapso.
"A zona sísmica de Kamchatka é uma das zonas de subducção mais ativas ao redor do Anel de Fogo do Pacífico, e a Placa do Pacífico está se movendo para oeste a cerca de 80 mm (3 polegadas) por ano", disse Roger Musson, pesquisador honorário do British Geological Survey.
Eventos de "subducção", nos quais uma placa empurra outra, são capazes de gerar terremotos muito mais fortes do que "deslizamentos de placa", como o que atingiu Mianmar em março, onde as placas roçam horizontalmente umas nas outras em velocidades diferentes.
A área de Kamchatka é particularmente vulnerável e sofreu um evento de magnitude 9 em novembro de 1952, destruindo a cidade de Severo-Kurilsk e causando grandes danos até no Havaí, disse Musson à Reuters.
Eventos de "megaimpacto" superficiais têm maior probabilidade de causar tsunamis porque eles rompem o fundo do mar e deslocam grandes volumes de água.
RISCOS DE TSUNAMI
Com uma profundidade relativamente rasa de 20,7 km, o terremoto de quarta-feira criaria riscos de tsunami, disseram especialistas.
"É um terremoto offshore e quando há terremotos offshore há potencial para tsunamis", disse Adam Pascal, cientista-chefe do Centro de Pesquisa Sismológica da Austrália.
"Se houver um terremoto relativamente superficial, é mais provável que haja ruptura da superfície do fundo do oceano", disse ele à Reuters.
"Vimos em alguns casos que é possível ter grandes terremotos como esse e não causar um tsunami, porque eles são muito profundos e o cisalhamento não se expressa na superfície."
Ondas de tsunami de cerca de 1,7 metros chegaram até o Havaí, menos altas do que o esperado originalmente, mas cientistas alertaram que tais ondas não precisam ser especialmente grandes para causar danos às costas relativamente baixas das nações insulares do Pacífico.
Algumas regiões da Polinésia Francesa foram instruídas a se preparar para ondas de até 4 metros.
O impacto de um tsunami depende da sua "avanço" à medida que se aproxima do litoral, disse Pascal.
"Se houver uma subida muito longa e rasa até a costa, grande parte da energia pode ser dissipada nessa subida, mas se houver uma plataforma muito íngreme antes de chegar à costa, a altura das ondas pode ser maior", disse ele.
TREMORES SECUNDÁRIOS
O terremoto de quarta-feira já provocou pelo menos 10 tremores secundários acima de magnitude 5, e eles podem continuar por meses, disse Caroline Orchiston, diretora do Centro de Sustentabilidade da Universidade de Otago, na Nova Zelândia.
"Isso demonstra que terremotos de grande magnitude geram sequências de tremores secundários que começam imediatamente, e alguns deles podem ser prejudiciais por si só", disse ela.
O evento de magnitude 8,8 na quarta-feira ocorreu menos de duas semanas após um terremoto de magnitude 7,4 na mesma área, que agora foi identificado como um "abalo preliminar".
"Terremotos são imprevisíveis por natureza", disse Pascal. "Não há precursores cientificamente consistentes em sequências de terremotos. Antes desta manhã, esses outros eram os principais abalos."
Ele acrescentou que tremores secundários maiores não podem ser totalmente descartados, mas sua magnitude e frequência normalmente tendem a diminuir com o tempo.
"É possível esperar que grandes tremores secundários continuem por algum tempo, mas a frequência de eventos grandes e danosos diminuirá com o passar do tempo", afirmou.
"Sempre há uma chance de um evento maior, mas esse evento maior geralmente ocorrerá logo depois, dentro de dias ou semanas."
(Reportagem de David Stanway)
((Tradução Redação São Paulo))
REUTERS FDC