Por Maria Tsvetkova
NOVA IORQUE, 14 Mar (Reuters) - O Departamento de Justiça dos EUA disse nesta sexta-feira que está investigando possíveis violações das leis de terrorismo durante os protestos contra a guerra de Gaza na Universidade de Columbia, o que coloca nova pressão sobre o epicentro do ativismo anti-Israel visto em todo o país no ano passado.
O procurador-geral adjunto Todd Blanche afirmou que a investigação faz parte da "missão do presidente Donald Trump de acabar com o antissemitismo neste país", chamando-a de uma reação "muito tardia".
Os defensores dos direitos civis criticaram a medida, dizendo que os manifestantes estavam protegidos pela Primeira Emenda da Constituição, que garante direitos como a liberdade de expressão.
O anúncio é o mais recente de uma série de sinais de que o governo Trump não tem intenção de aliviar a repressão aos ativistas estudantis pró-palestinos e às políticas universitárias que, segundo ele, permitem que o antissemitismo floresça no campus.
O governo Trump disse que Columbia deve fazer uma série de mudanças de política como pré-condição para iniciar negociações sobre a restauração de US$400 milhões em financiamento federal suspenso na semana passada.
As demandas, expressas em uma carta datada de quinta-feira, coincidiram com buscas em dois dormitórios realizadas por agentes federais no campus de Nova York da universidade. As buscas ocorreram uma semana após agentes de imigração deterem Mahmoud Khalil, o líder dos protestos do ano passado na instituição, em uma tentativa de deportá-lo -- até agora bloqueada no tribunal federal.
No início desta semana, o Departamento de Educação alertou que estava investigando 60 instituições de ensino por supostamente tolerarem um ambiente hostil para judeus.
Em um movimento relacionado, o departamento informou nesta sexta-feira que estava investigando reclamações de que 45 universidades se envolveram com um programa de diversidade que definiu a elegibilidade com base na raça. O órgão afirmou que tais atividades violam uma lei de direitos civis de 1964.
BUSCAS EM DORMITÓRIOS
As manifestações no campus que precipitaram o escrutínio federal começaram após o ataque de outubro de 2023 do Hamas a Israel, e a subsequente reação israelense, apoiada pelos EUA, em Gaza. O governo norte-americano classificou o Hamas, que controla o enclave, como grupo terrorista.
Os manifestantes exigiram que os EUA encerrassem a assistência militar a Israel.
O governo Trump acusou Columbia de uma resposta inadequada ao acampamento de semanas montado pelos ativistas no campus e à breve ocupação de um prédio no local.
A universidade se defendeu, dizendo que trabalhou para combater o antissemitismo. Ao mesmo tempo, tentou se defender de acusações de grupos de direitos civis de que está deixando o governo corroer as proteções de liberdade de expressão da academia.
Brian Hauss, advogado sênior da União Americana pelas Liberdades Civis e parte da equipe jurídica de Khalil, disse que a investigação do Departamento de Justiça foi equivocada.
"A Primeira Emenda não permite que haja confusão entre ser pró-palestino e pró-Hamas", disse ele.
Agentes do Departamento de Segurança Interna conduziram as buscas no dormitório após entregarem a Columbia mandados assinados por um magistrado federal, disse a presidente interina Katrina Armstrong em uma declaração. Ninguém foi detido, nenhum item foi removido e nenhuma outra ação foi tomada, disse ela.
Blanche afirmou que as buscas faziam parte de uma investigação para descobrir se a Universidade de Columbia abrigava em seu campus imigrantes que estavam ilegalmente no país.
Estudantes dizem que agentes federais de imigração foram vistos repetidamente em dormitórios e moradias estudantis ao redor do campus de Manhattan.
Entre as exigências da carta de quinta-feira à universidade, o governo Trump disse que Columbia deve definir formalmente o antissemitismo, proibir o uso de máscaras "destinadas a ocultar identidade ou intimidar" e colocar seus departamentos de Estudos do Oriente Médio, Sul da Ásia e África sob "administração acadêmica", o que tiraria o controle das mãos de seus professores.
Também exigiu que a escola reforme suas políticas de admissão e recrutamento internacional em conformidade com a lei federal, mas não ofereceu detalhes específicos.
A Universidade de Columbia disse que estava revisando a carta. "Estamos comprometidos em todos os momentos em avançar na nossa missão, apoiar nossos alunos e abordar todas as formas de discriminação e ódio em nosso campus", disse em uma declaração.
Esta semana, a instituição disse que havia aplicado uma série de punições -- incluindo suspensões, expulsões e revogações de diplomas -- aos alunos que ocuparam o prédio na primavera passada. A universidade não nomeou os alunos nem disse quantos foram punidos.
Enquanto centenas de apoiadores de Khalil se manifestavam no portão principal de Columbia nesta sexta-feira, Demetri -- um estudante de pós-graduação que passava pelo local e pediu para ser identificado apenas pelo primeiro nome -- disse que o clima no campus era deprimente.
"O governo federal não pode ditar o que e quem deve ou não ensinar, como quem pode ou não pode ser admitido", defendeu.
(Reportagem de Maria Tsvetkova; reportagem adicional de Jonathan Allen e Luc Cohen em Nova York e Brendan O'Brien em Chicago; texto de Frank McGurty)
((Tradução Redação São Paulo))
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