Por Sergio Goncalves e Andrei Khalip
LISBOA, 5 Fev (Reuters) - O Banco Central Europeu poderá ter de reduzir as taxas de juro para um nível inferior ao neutro para estimular o crescimento económico, já que a inflação corre o risco de cair abaixo do objectivo de 2% do banco, disse, à Reuters, Mário Centeno, decisor de política do BCE, esta quarta-feira.
Com a ameaça de aplicação de tarifas a produtos europeus pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o que representa um risco adicional para o crescimento, Centeno, governador do Banco de Portugal, disse que era "bastante claro que precisamos de manter a trajectória das taxas de juro em baixa".
A taxa de juro directora do BCE, actualmente nos 2,75%, tem de atingir os 2% "mais cedo que tarde" este ano, através de novos cortes graduais de 25 pontos base, afirmou.
Centeno, um dos que mais declaradamente defende uma política 'macia' no banco, disse que mesmo isso pode não ser suficiente e que o BCE pode ter de descer abaixo do nível neutro - que já não restringe o crescimento económico e que a maioria dos economistas acredita estar entre 1,75% e 2,25%.
"Poderemos ter de descer abaixo do nível neutro", afirmou, acrescentando que, descontados os efeitos de base, a inflação já seria inferior a 2%.
"A nossa economia não é suficientemente forte para suportar uma inflação de 2%. Precisamos também de estabilizar o lado real da economia para que a inflação possa convergir, como está a convergir, para 2% e manter-se nos 2%".
Ele culpou a falta de investimento pelo fraco crescimento da Europa, bem como o facto de os consumidores serem cautelosos e de as empresas não verem um retorno adequado do investimento.
Os decisores de política devem encontrar um equilíbrio entre a contenção das pressões sobre os custos, o aumento da produtividade e a recuperação dos salários após a inflação registada nos últimos três anos, afirmou.
Virando-se para as tarifas dos Estados Unidos, Centeno afirmou que "não são boas notícias" para todos os envolvidos, mas não excluiu a possibilidade de um impacto deflacionário decorrente do facto de os produtos chineses serem redireccionados para fora dos Estados Unidos a preços mais competitivos.
"As tarifas aplicadas à Europa, a zona mais aberta das economias modernas, muito mais que os Estados Unidos, podem ter um grande impacto", disse. "Esperamos que, se chegar o momento de o fazermos (negociar), a Europa possa também mostrar-se no mundo como uma frente bastante unida".
"E precisamos de ver, depois de Março, qual é o resultado das tarifas a nível mundial", acrescentou.
Texto integral em inglês: nL8N3OW273