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30 anos de negociações sobre clima: progresso, obstáculos e planeta em perigo

Reuters6 de nov de 2025 às 13:24

Por Valerie Volcovici e Richard Valdmanis

- À medida que os líderes se reúnem para a cúpula climática da ONU no Brasil este mês -- três décadas após a primeira conferência climática anual do mundo -- os dados que mapeiam o progresso na luta contra o aquecimento global contam uma história preocupante.

Apesar de anos de negociações, promessas e cúpulas, as emissões de gases de efeito estufa aumentaram em um terço desde a primeira reunião; o consumo de combustível fóssil continua a aumentar; e as temperaturas globais estão a caminho de ultrapassar os limites que, segundo os cientistas, causarão danos catastróficos ao planeta.

"Sim, algumas coisas boas saíram dessas convenções, mas não o suficiente para garantir a promessa de vida na Terra", disse Juan Carlos Monterrey, representante especial do Panamá para mudanças climáticas, que está liderando um esforço para simplificar importantes acordos ambientais.

Essa avaliação sombria levanta uma questão fundamental antes da cúpula de 10 a 21 de novembro em Belém: A diplomacia climática global está fracassando? Ou as reuniões foram bem-sucedidas de uma forma que os dados brutos não conseguem captar?

Simon Stiell, chefe da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), diz que as reuniões anuais estão ajudando. "Mas é evidente que muito mais é necessário, e muito mais rápido, conforme os desastres climáticos atingem todos os países."

As emissões globais de gases de efeito estufa aumentaram 34% desde 1995. Embora essa seja uma taxa mais lenta do que o aumento de 64% nas três décadas anteriores, ainda representa uma trajetória incompatível com a estabilidade climática, de acordo com os cientistas.

"Ainda temos tempo para resolver esse problema. Ainda podemos vencer essa luta se fizermos o que prometemos fazer. Só temos que nos dar um chute e seguir em frente", disse John Kerry, enviado climático dos EUA sob o comando do presidente democrata Joe Biden.

O World Resources Institute, um grupo de pesquisa e defesa do clima, afirmou em um relatório de outubro que as metas governamentais de redução das emissões de gases de efeito estufa para 2035 continuam insuficientes para evitar que as temperaturas globais subam mais de 1,5°C acima da era pré-industrial -- o limite que os governos mundiais estabeleceram em um acordo climático histórico de 2015 em Paris.

As temperaturas globais ultrapassaram a marca de 1,5°C em alguns anos, sendo que 2023 e 2024 estão entre os mais quentes já registrados, embora a média móvel de 30 anos -- a referência usada pelo acordo de Paris -- ainda esteja abaixo desse nível.

"Haverá uma superação, o que é muito lamentável", disse James Fletcher, enviado climático da Comunidade do Caribe (CARICOM) e ex-ministro da Energia de Santa Lúcia, em uma entrevista.

"Qualquer coisa acima de 1,5 grau Celsius será catastrófica para os pequenos Estados insulares em desenvolvimento", afirmou.

Stiell disse à Reuters que, sem o processo da COP, as temperaturas mundiais estariam se encaminhando para um aquecimento catastrófico de 5ºC, em vez do aumento de menos de 3ºC projetado atualmente.

Enquanto isso, o consumo de combustíveis fósseis -- a principal fonte de emissões de aquecimento do planeta -- continua teimosamente alto, impulsionado pelo crescimento econômico e, mais recentemente, pelas demandas de energia dos centros de dados que alimentam a inteligência artificial.

A Agência Internacional de Energia projeta que a demanda por carvão -- um dos combustíveis fósseis mais sujos quando queimado -- se manterá em níveis recordes até 2027, uma vez que o aumento da demanda na China, na Índia e em outros países em desenvolvimento compensa as quedas em outros lugares.

Por outro lado, a adoção de energia solar e eólica se acelerou, as vendas de veículos elétricos aumentaram globalmente e a eficiência energética em geral melhorou, de acordo com dados da Agência Internacional de Energia.

O investimento global em energia limpa atingiu US$2,2 trilhões no ano passado, superando os US$1 trilhão investidos em combustíveis fósseis, de acordo com dados da AIE.

"Não poderíamos ter sonhado que esses avanços tecnológicos e a queda no preço dos veículos elétricos e das energias renováveis teriam acontecido há 10 anos", disse Jennifer Morgan, ex-enviada climática da Alemanha e veterana de todas as cúpulas da COP.

Ainda assim, o aumento das energias renováveis e dos veículos elétricos compensou amplamente a crescente demanda de energia em vez de substituir os combustíveis fósseis. E nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump -- que chamou a mudança climática de a maior "vigarice" do mundo -- cortou os subsídios para energia eólica e solar e veículos elétricos, acrescentou obstáculos de permissão para projetos renováveis e abriu mais terras para perfuração e mineração.

"O presidente Trump não colocará em risco a segurança econômica e nacional de nosso país para buscar metas climáticas vagas que estão matando outros países", disse Taylor Rogers, porta-voz da Casa Branca, à Reuters.

((Tradução Redação São Paulo))

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