
Por Katy Daigle
BELÉM, 23 Nov (Reuters) - A cúpula da ONU sobre mudança climática deste ano terminou com um acordo tênue que ignorou demandas importantes da maioria dos países, exceto uma: comprometer os países ricos a triplicar seus gastos para ajudar outros países a se adaptarem ao aquecimento global.
Aqui estão algumas das conclusões da cúpula climática COP30 realizada na cidade amazônica de Belém:
HIDROCARBONETOS
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou a cúpula pedindo que os países chegassem a um acordo sobre um "mapa do caminho" para avançar na promessa da COP28 de abandonar os combustíveis fósseis.
Mas essa cúpula foi um caminho para lugar nenhum, já que as nações árabes ricas em petróleo e outras dependentes de combustíveis fósseis bloquearam qualquer menção ao assunto. Em vez disso, a presidência da COP30 criou um plano voluntário ao qual os países poderiam aderir ou não.
O resultado foi semelhante ao da COP27 do Egito e da COP29 do Azerbaijão, em que os países concordaram em gastar mais dinheiro para enfrentar os perigos climáticos, mas ignoraram sua causa principal.
Quase três quartos das emissões mundiais de gases de efeito estufa desde 2020 são provenientes de carvão, petróleo e gás. É provável que a demanda por esses combustíveis aumente até 2050, disse a Agência Internacional de Energia em um relatório no meio da cúpula da COP30 que reverteu as expectativas de uma rápida mudança para a energia limpa.
UNIDADE CLIMÁTICA GLOBAL
A necessidade de demonstrar unidade global nas negociações sobre o clima foi o principal tópico com o qual os países concordaram, juntamente com a ideia de que os países ricos, que poluem há muito tempo, devem fazer a maior parte do esforço para resolver o problema.
Mas, para chegar a um acordo final, eles abandonaram quase todas as ambições que haviam trazido -- incluindo metas obrigatórias mais rígidas para reduzir as emissões de gases que causam o aquecimento climático.
A presidência brasileira da COP30 lamentou o fato de os Estados Unidos não terem participado das negociações. A ausência da maior economia do mundo -- e do maior poluidor histórico -- encorajou os países com interesses em combustíveis fósseis.
As preocupações com um processo que permite que apenas alguns vetem efetivamente acordos coletivos ficaram mais fortes, alimentando os pedidos de reforma.
Depois de o Brasil ter prometido uma "COP da Verdade" que colocaria os países no rumo da ação, a omissão de quaisquer planos de implementação acordados foi flagrante.
CHINA NA POLE POSITION
A China desempenhou um papel de liderança na cúpula, mas nos bastidores.
O presidente Xi Jinping não participou das negociações, como de costume. Mas sua delegação levou uma forte mensagem de que a China estava preparada para fornecer a tecnologia de energia limpa de que o mundo precisa para reduzir as emissões.
Executivos de empresas chinesas de energia solar, baterias e veículos elétricos foram apresentados no pavilhão de exposições do país -- uma das primeiras coisas que os delegados viam ao entrar no amplo local do evento.
A China não foi a única nação de rápido desenvolvimento em foco este ano. A delegação indiana mostrou mais força nas negociações, enquanto a África do Sul apresentou uma agenda ligada ao clima para sua própria cúpula do G20, de 22 a 23 de novembro.
FLORESTAS E DIREITOS INDÍGENAS
Ao realizar a cúpula em uma cidade da floresta amazônica, o Brasil destacou a importância da cobertura florestal remanescente no mundo para combater as mudanças climáticas -- juntamente com os cerca de meio bilhão de indígenas vistos como guardiões das terras naturais.
Muitos dos participantes de toda a Amazônia e do mundo sentiram-se frustrados por não estarem sendo ouvidos. Eles realizaram vários protestos e até invadiram os portões do complexo da COP30, entrando em conflito com a segurança antes de serem colocados para fora.
Os países anunciaram cerca de US$9,5 bilhões em financiamento florestal, incluindo quase US$7 bilhões para o principal fundo de florestas tropicais do Brasil e outros US$2,5 bilhões para uma iniciativa para o Congo.
Mas a cúpula terminou com uma nota amarga para muitos, pois os negociadores abandonaram os esforços para um roteiro para cumprir a promessa de desmatamento zero em 2030 e não reconheceram a proteção de suas terras.
ATAQUES À CIÊNCIA CLIMÁTICA
Embora Lula e outros líderes mundiais tenham se manifestado contra a desinformação e a negação, as negociações da COP30 não ajudaram muito a combater o ataque do governo dos EUA à ciência climática este ano.
A cúpula também contribuiu para minar o consenso global em torno da ciência climática, ao deixar de reconhecer o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU como a "melhor ciência disponível" para orientar as políticas sobre mudanças climáticas e seus impactos.
Em vez disso, o acordo final observa a importância dos resultados do IPCC juntamente com "aqueles produzidos em países em desenvolvimento e relatórios relevantes de grupos e instituições regionais".
E, ao deixar de lado os combustíveis fósseis e as metas de emissões, a COP30 ignorou os alarmes emitidos pelos cientistas.
((Tradução Redação São Paulo))
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