
Por Karl Plume
CHICAGO, 21 Nov (Reuters) - As maiores vendas de soja dos EUA para a China em mais de dois anos nesta semana podem ser apenas o início de um programa de compras acelerado por parte de Pequim, depois que o maior importador do mundo evitou os suprimentos dos EUA por meses devido a uma guerra comercial com Washington.
Mesmo que as compras fiquem aquém das 12 milhões de toneladas anunciadas pelo Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, o aumento nas vendas impulsionou os preços das safras.
Isso desencadeou uma enxurrada de vendas por parte dos agricultores que estavam segurando suas produções à espera desse aumento. Alguns traders chineses também lucraram após reservarem posições compradas quando os preços caíram, mas os agricultores norte-americanos que venderam sua safra antes do anúncio do acordo de compra chinês não se beneficiaram.
Não ficou claro com que rapidez a China atingiria a meta com a qual as autoridades dos EUA disseram que Pequim concordou. As compras confirmadas de quase 1,6 milhão de toneladas em três dias fizeram com que os preços nos EUA subissem drasticamente, atingindo um prêmio muito alto em relação aos embarques do exportador rival, o Brasil. Isso tornou a soja dos EUA não competitiva para outros importadores, como a Turquia e o Vietnã.
Isso também cria um problema para Pequim, que agora não precisa de mais grãos após grandes compras de safras sul-americanas. A China precisa esvaziar parte de suas reservas nacionais para abrir espaço para as remessas dos EUA.
Bessent e a Secretária de Agricultura, Brooke Rollins, disseram que a China havia concordado em comprar 12 milhões de toneladas até o final deste ano, depois que o presidente Donald Trump se reuniu em outubro com o presidente chinês Xi Jinping na Coreia do Sul.
Na semana passada, Trump disse que as compras ocorreriam antes da primavera. Pequim não confirmou oficialmente o compromisso de volume, mas Bessent disse que o acordo poderia ser fechado até o final da próxima semana.
Nos últimos anos, a China foi responsável por 50% a 60% de todas as exportações de soja dos EUA, portanto, é provável que o momento das compras influencie os preços da soja, pelo menos até que um acordo oficial seja assinado.
"Se eu acredito que a China tomará 12 milhões de toneladas? Eu acredito", disse Dan Basse, presidente da consultoria AgResource Co. "Se eu acho que a China comprará 12 milhões de toneladas até o final do ano? De jeito nenhum."
O Departamento de Agricultura dos EUA confirmou 1,584 milhão de toneladas em vendas para a China em três dias desta semana, o maior registro em uma única semana desde o início de novembro de 2023, de acordo com dados do USDA.
Traders e analistas disseram que as vendas totais podem estar mais próximas de 2 milhões a 3 milhões de toneladas, depois que um volume mínimo foi vendido antes da cúpula Trump-Xi, com outras compras recentes abaixo do limite diário de relatório do USDA.
Os futuros da soja na Bolsa de Chicago atingiram o ponto mais alto desde junho de 2024 com a notícia das vendas, e o preço de referência subiu quase 12% desde meados de outubro, antes da reunião na Coreia do Sul.
Essa alta de preços nos EUA coincidiu com uma queda nos custos da soja brasileira, ampliando o prêmio dos EUA em relação ao Brasil para cerca de 50 centavos de dólar por bushel para os embarques de janeiro, ou mais de US$1,1 milhão por carga de 60.000 toneladas. O prêmio para os embarques dos EUA em fevereiro chegou a US$1,10 por bushel, de acordo com traders.
Um aumento nos contratos futuros em aberto durante a alta sugeriu que importadores chineses estavam entre os que assumiram posições compradas no mercado, apostando que os preços subiriam. As posições travaram os preços mais baixos antes de registrarem as vendas físicas. Os futuros recuaram à medida que os traders chineses liquidaram essas posições compradas, disseram traders.
"Na verdade, eles compraram os futuros há muito tempo, provavelmente quando os grãos de janeiro estavam em torno de US$10 por bushel e antes da reunião de Xi com Trump e do anúncio do acordo comercial. Portanto, eles estiveram comprados nos futuros durante todo esse tempo e agora estão anunciando compras em dinheiro, o que significa que estão, na verdade, vendendo seus futuros comprados, o que, por sua vez, está pressionando os futuros da soja de janeiro", disse Brian Hoops, analista da Midwest Market Solutions.
Dados da Commodity Futures Trading Commission, que mostram as posições dos traders no mercado futuro, não estavam disponíveis devido à recente paralisação do governo dos EUA, com um acúmulo de dados a serem liberados aos poucos nas próximas semanas.
Os agricultores dos EUA, que enfrentaram dificuldades com os preços baixos durante a maior parte do verão e na colheita de outono, aceleraram as vendas da safra de soja de 2025 durante a alta. Estima-se que os produtores tenham vendido cerca de 30% a 40% de sua safra até o momento, com base em entrevistas com seis agricultores e analistas. Esses níveis seriam iguais ou inferiores às vendas normais em meados de novembro.
"Em alguns lugares, a base ainda é bastante ampla e talvez o agricultor ainda esteja esperando que a alta possa continuar", disse Tanner Ehmke, analista do credor agrícola CoBank. A base é a diferença entre os preços futuros e o preço do mercado à vista local, refletindo a oferta e a demanda em um determinado local.
"Pode haver alguma apreensão quanto à venda se os agricultores ainda estiverem esperando um pagamento ad hoc", disse Ehmke, referindo-se aos pagamentos propostos de ajuda aos agricultores que ainda não foram finalizados.
A expectativa era de que o governo Trump anunciasse até US$15 bilhões em pagamentos para ajudar os agricultores prejudicados por preços baixos e disputas comerciais, mas a paralisação do governo atrasou esse plano. Detalhes sobre o pacote de ajuda seriam anunciados "em breve", disse a Secretária de Agricultura Rollins na quarta-feira.
Depois de evitar vendas durante grande parte da temporada devido aos baixos preços, o agricultor e analista de commodities de Illinois Sherman Newlin registrou algumas vendas de soja quando os preços começaram a subir. Essas vendas, registradas antes do pico do mercado nesta semana, ficaram abaixo do custo de produção.
"Não gostamos de vender, mas é o fluxo de caixa. Temos muitas coisas para pagar nesta época do ano", disse ele.
As ofertas de soja à vista na enorme usina de processamento da Archer-Daniels-Midland em Decatur, Illinois, uma referência para o principal Estado produtor de soja, eram de US$11,23 por bushel na tarde de quinta-feira.
Esse valor foi igual ou superior ao preço médio de equilíbrio estimado para terras agrícolas altamente produtivas na região central de Illinois, de US$10,87 a US$11,23 por bushel, de acordo com economistas da Universidade de Illinois, e acima dos US$10,42 por bushel registrados há um mês.
(Reportagem de Karl Plume em Chicago)
((Tradução Redação São Paulo))
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