
Por Roberto Samora
SÃO PAULO, 29 Out (Reuters) - A safra de soja no Brasil, maior produtor e exportador global, foi estimada nesta quarta-feira em novo recorde de 177 milhões de toneladas em 2025/26, aumento de 3% em relação ao ciclo anterior, com produtores ampliando a área plantada apesar de um cenário de margens mais baixas, projetou o Rabobank.
A estimativa indica uma expectativa superior na comparação com o número previsto em setembro, quando o banco holandês havia previsto 175 milhões de toneladas.
A avaliação, em momento em que os produtores estão em processo de plantio no país, considera uma área plantada acima da expectativa inicial, que deverá somar 48,8 milhões de hectares, alta anual de 2%. Na projeção anterior, o Rabobank previa um aumento de 1,5% na área plantada.
Apesar do ajuste positivo, o crescimento da área está abaixo da média histórica, com produtores enfrentando margens mais baixas, em meio a safras recordes no Brasil.
Para a analista do Rabobank Marcela Marini, há produtores que não estão tão alavancados quanto outros, o que reduz o impacto dos juros elevados para o negócio. Isso permite a expansão do plantio mesmo em um cenário de margens menores, disse ela em teleconferência com jornalistas.
Além disso, ressaltou a especialista, o produtor de soja e milho "viu o negócio crescer muito nos últimos anos" e quer otimizar os resultados.
"Isso faz parte culturalmente do produtor rural, a terra é o principal ativo, e ele quer maximizar esse ativo, tanto quanto uma esmagadora de soja quer maximizar", disse Marini.
Ela ainda destacou que há produtores mais sofisticados no Brasil, que contam com especialistas para realizar a comercialização, o que lhes permite avançar em tempos mais difíceis.
"Eles conseguiram um preço de venda mais favorável, com ferramentas de hedge, do que aqueles que não têm essa sofisticação", comentou.
Para o ano que vem, o Rabobank estima exportações de soja brasileira de 111 milhões de toneladas, estável ante a previsão de recorde deste ano, diante de incertezas relacionadas aos embarques do produto dos EUA para a China.
Marini observou que, mesmo que venha a ser fechado um acordo entre EUA e China que permita exportação de soja norte-americana, o total exportado pelo país da América do Norte será prejudicado no ano devido ao atraso nos embarques.
Por outro lado, se o acordo EUA-China acontecer, a soja brasileira ficará mais competitiva para processamento no Brasil em 2026.
"Como as exportações (brasileiras) este ano ficaram muito competitivas, (pois) a China só tinha o Brasil como principal ponto de origem, as esmagadoras tiveram que pagar um prêmio para a soja ficar no mercado interno", pontuou.
O processamento de soja no Brasil foi estimado em 60 milhões de toneladas em 2026, novo recorde, versus 58 milhões previstos para 2025.
MILHO
O Rabobank também projeta um aumento de 2,2% na área semeada com milho no Brasil em 2025/26, para 22,2 milhões de hectares, e vê uma produção de 137 milhões de toneladas, que seria uma queda de 3,5% ante o ciclo anterior por conta de produtividades abaixo das registradas em 2024/25, quando foram recordes.
O crescimento de área tem sido impulsionado pelo consumo interno de milho no Brasil, estimado em 2025/26 em 97 milhões de toneladas, com alta anual de 6,6%, principalmente pela maior demanda do setor de etanol.
Já exportação do cereal do Brasil em 2025/26 foi estimada em 37 milhões de toneladas, queda anual de 5%.
Com expansão da área de soja e milho, o Rabobank projeta um novo recorde nas entregas de fertilizantes no Brasil em 2026, a 47 milhões de toneladas, que superaria a melhor marca da história esperada para 2025 (46,6 milhões de toneladas).
O Rabobank divulgou ainda projeções para outras importantes commodities agrícolas no Brasil, como carnes, açúcar e café, entre outras.