
Por Andy Home
LONDRES, 27 Out (Reuters) - O cobre tem um longo histórico de interrupções no fornecimento de minas, mas este ano está se mostrando particularmente problemático para um setor que tem corrido para acompanhar a demanda das fundições.
Várias das maiores minas de cobre do mundo sofreram quedas inesperadas na produção e o impacto cumulativo será sentido com força total no próximo ano, de acordo com o International Copper Study Group(ICSG).
A restrição no segmento de concentrados extraídos do mercado atuará como um freio brusco no crescimento da produção de cobre refinado em 2026, disse o Grupo em sua última atualização estatística semestral (link).
Mesmo com a expectativa de desaceleração do crescimento da demanda no próximo ano, a produção de metais deverá ficar 150.000 toneladas abaixo do esperado. É uma revisão significativa em relação à última reunião do Grupo, em abril, quando a expectativa era de um excedente de oferta de 209.000 toneladas.
O CRESCIMENTO DA OFERTA DE MINAS ESTÁ PARADO
Com muitas minas de cobre operando em condições remotas e desafiadoras, um grau de interrupção imprevista está embutido no perfil de oferta do mercado.
Este ano, no entanto, está se mostrando um caso atípico dos piores, com uma série de acidentes em diversas megaminas do mundo.
A mina Kakula da Ivanhoe Mines IVN.TO foi atingida por atividade sísmica (link) e subsequentes inundações em maio. A mina El Teniente da produtora estatal chilena Codelco sofreu um colapso fatal (link) em julho e a mina Grasberg da Freeport-McMoRan FCX.N sofreu um influxo devastador de lama (link) em setembro.
Sem surpresa, o ICSG cortou suas previsões de fornecimento de minas para 2025, com crescimento agora esperado em apenas 1,4%, abaixo da previsão anterior de 2,3% e do crescimento real de 2,8% em 2024.
Esta ainda é uma previsão bastante conservadora. Analistas do Citi e do UBS, por exemplo, preveem "nenhum crescimento" e "crescimento insignificante", respectivamente, neste ano.
PUXANDO O FREIO
A perda de unidades levará algum tempo para ser repercutida no segmento refinado do mercado de cobre.
O ICSG elevou sua avaliação do crescimento da produção de metais neste ano de 2,9% em abril para 3,4%, para refletir o aumento na nova capacidade de fundição chinesa.
Mas o crescimento no ano que vem deve desacelerar para 0,9%, com a produção limitada pela escassez de concentrados extraídos.
Mesmo esse número baixo engana. A produção de fontes secundárias recicláveis deve aumentar robustos 6,0% no próximo ano, enquanto a produção de minas de metal direto com tecnologia de lixiviação aumentará 2,2%.
A produção primária em fundições que utilizam concentrados como alimentação terá, por implicação, dificuldade em registrar qualquer crescimento.
O desequilíbrio entre a disponibilidade de matéria-prima e a demanda das fundições provavelmente acentuará a competição já acirrada por concentrados de cobre.
EXCESSO HOJE, AMANHÃ PASSADO
O ICSG conclui que, apesar do fraco crescimento da demanda de 2,1% no ano que vem, o mercado de cobre está a caminho de registrar um déficit de oferta após dois anos consecutivos de superávit.
Mas ainda não.
Ainda se espera que este ano seja um ano de abundância, embora o Grupo tenha reduzido a previsão de superávit de produção de 289.000 para 178.000 toneladas em sua reunião de abril.
A maior parte do excedente de metal está nos EUA devido ao incentivo criado pela ameaça de tarifas de importação sobre cobre refinado, adiadas até o ano que vem.
Os estoques de cobre registrados na bolsa de valores norte-americana CME agora excedem aqueles mantidos pela Bolsa de Metais de Londres e pela Bolsa de Futuros de Xangai juntas.
Entretanto, mesmo com a mudança de localização do estoque global, os estoques totais na bolsa aumentaram em 120.000 toneladas desde o início do ano, com grande probabilidade de haver mais cobre armazenado fora do mercado nos Estados Unidos.
O atual estoque de reserva está agindo como um contrapeso à exuberância otimista do mercado.
Mas os mercados futuros precificam expectativas futuras. O preço do metal de três meses na LME CMCU3, atualmente oscilando um pouco abaixo do nível de US$ 11.000 por tonelada, tem data de entrega prevista para janeiro de 2026.
E é no ano que vem que o mercado de cobre parece estar pronto para sentir o impacto total da série de choques no fornecimento de minas deste ano.
Andy Home é colunista da Reuters. As opiniões expressas são de sua responsabilidade.