Por Eric Onstad
LONDRES, 19 Set (Reuters) - A Mercuria se tornou a primeira grande empresa de commodities a lançar negociações físicas de urânio, juntando-se aos bancos Natixis e Citibank, à medida que um esperado boom na energia nuclear alimenta o interesse no nicho de mercado, disseram à Reuters três fontes com conhecimento do assunto.
A Mercuria iniciou a negociação de urânio no início deste ano, disseram as fontes. A Natixis também lançou a negociação de urânio este ano, enquanto o Citibank CN está trabalhando para entrar no setor, disseram duas das fontes.
Todas as três fontes pediram para não serem identificadas, já que as informações ainda são confidenciais.
O Citi e o Natixis, que faz parte do grupo financeiro francês BPCE, não quiseram comentar.
Os três recém-chegados competirão com o Goldman Sachs GS.N e o Macquarie MQG.AX, que há muito tempo são os únicos bancos que operam no mercado, com valor anual de cerca de US$ 15 bilhões.
As instituições esperam lucrar com uma onda de novas usinas nucleares planejadas que precisarão ser financiadas e abastecidas com combustível, disseram analistas e consultores.
A DEMANDA POR COMBUSTÍVEL NUCLEAR DUPLICARÁ ATÉ 2040
A procura pelo combustível utilizado para alimentar os reactores nucleares deverá mais do que duplicar (link) até 2040, de acordo com a Associação Nuclear Mundial, à medida que os governos buscam atingir metas de carbono zero e as empresas de tecnologia lutam para obter energia para IA.
A Mercuria, sediada em Genebra e com uma presença importante nos mercados de energia, expandiu-se fortemente (link) em metais nos últimos anos, usando uma receita inesperada dos altos preços do petróleo e do gás.
Em dezembro, o grupo contratou Louis Csango do Goldman Sachs, que tem uma longa história em comércio de urânio, para chefiar sua operação de urânio e também trabalhar em gás e energia.
Faz sentido para a Mercuria alavancar o negócio de urânio com sua mesa de energia existente, porque informações sobre serviços públicos podem ser úteis em ambas as áreas, disseram os operadores.
"Há muito interesse não apenas das corretoras tradicionais europeias, mas também do lado norte-americano, e alguns bancos estão se aproximando do setor", disse Bram Vanderelst, da corretora Curzon Uranium, uma das maiores do setor. Ele não quis revelar nomes.
Goldman Sachs e Macquarie impulsionaram a atividade (link) nos últimos anos, juntamente com alguns fundos de hedge no setor recém-estimulado.
PREÇOS HISTORICAMENTE ALTOS DO URÂNIO ESTÃO AUMENTANDO
O urânio é um mercado relativamente pequeno comparado a outros, como petróleo, gás, cobre e alumínio, negociados pela Mercuria e bancos de commodities.
Demanda global total de serviços públicos por concentrado de óxido de urânio(U3O8) foi de cerca de 175 milhões de libras no ano passado, dos quais 47 milhões ou 27% foram negociados no mercado à vista, de acordo com a consultoria UxC.
U3O8 ou yellowcake é um pó fino embalado em tambores de aço que é produzido quando o minério de urânio é processado quimicamente.
"Se o mercado dobrar de tamanho em termos de energia nuclear e urânio, tenho certeza de que haverá mais oportunidades para os comerciantes", disse Jonathan Hinze, presidente da UxC.
"Não é um mercado em que você entra facilmente. Leva alguns anos até que você consiga se firmar nele", acrescentou.
O preço à vista do urânio UXXc1 mais que dobrou nos últimos cinco anos, para US$ 77 a libra, mas está bem abaixo do pico de US$ 106 atingido em fevereiro de 2024, o mais forte desde novembro de 2007.
O analista Arkady Gevorkyan, do Citi, espera que o preço à vista atinja US$ 100 a libra no ano que vem, já que as mineradoras podem não conseguir atender à demanda.
"Nos últimos 20 anos, a oferta sempre foi menor que a demanda, mas o mercado tem sido equilibrado por suprimentos secundários. Agora, essa era está chegando ao fim relativamente rápido", disse ele.