Por Ron Bousso
LONDRES, 5 Ago - Ao tentar recuperar o atraso, acelerar o ritmo pode não ser suficiente. Também é preciso torcer para que os rivais não acelerem. Basta perguntar às grandes empresas de energia da Europa.
A grande produção de petróleo e gás da Exxon Mobil XOM.N e da Chevron CVX.N no segundo trimestre serviu como um lembrete sério para seus rivais europeus do desafio feroz que estes últimos enfrentam em suas tentativas de fechar a lacuna de produção que aumentou nos últimos anos.
A Exxon bombeou 4,63 milhões de barris de óleo e gás equivalente por dia(boed) no segundo trimestre, um aumento de 6% em relação ao ano anterior e um recorde para o período, após a aquisição de US$ 60 bilhões no ano passado (link) da Pioneer Natural Resources e aumento da produção de operações de baixo custo na bacia de xisto do Permiano, nos Estados Unidos, e na costa da Guiana.
A empresa sediada no Texas tem como meta investir entre US$ 27 e US$ 29 bilhões em investimentos de capital neste ano e pretende aumentar a produção para 5,4 milhões de boed até 2030. E o presidente-executivo Darren Woods sinalizou que a empresa está disposta a fazer mais aquisições upstream.
A rival menor Chevron também registrou seu maior lucro trimestral de todos os tempos (link) Produção de 3,4 milhões de boed, alta de 3% em relação ao ano anterior, impulsionada pelo aumento da produção no Permiano e no Cazaquistão. A produção deverá aumentar em até 500.000 boed no terceiro trimestre, após a Chevron concluir a aquisição da Hess no início deste mês, após uma longa e acirrada batalha judicial com a Exxon. (link).
A história é bem diferente na Europa.
A produção da Shell SHEL.L caiu (link) 4,2%, para 2,65 milhões de boed, o menor nível em pelo menos 20 anos, refletindo as recentes vendas de ativos e os menores gastos da empresa britânica de energia com exploração de petróleo e gás no início desta década, em seus esforços para abandonar os combustíveis fósseis.
Na BP BP.L, a produção (link) sofreu uma queda anual de 3,3%, para 2,3 milhões de boed, também devido ao menor investimento nos últimos anos. E enquanto a francesa TotalEnergies TTEF.P aumentou a produção (link) em 3,6% em relação ao ano passado, sua produção de 2,5 milhões de boed ainda está bem atrás daquela de seus rivais nos EUA.
O que é preocupante para esses gigantes europeus é que a janela de oportunidade para aumentar a produção significativamente está se estreitando nesse setor de capital intensivo, onde leva anos para desenvolver projetos, a concorrência do aumento da oferta da OPEP está se intensificando e a perspectiva de longo prazo para a demanda por petróleo continua nebulosa em meio à transição energética.
CRESCIMENTO MODESTO
As metas de produção de petróleo e gás do trio europeu também são bastante modestas em comparação com as estratégias agressivas da Exxon e da Chevron.
A TotalEnergies – que manteve a estratégia mais consistente entre as três – visa aumentar a produção (link) em 3% ao ano entre 2024 e 2030. A BP abandonou no ano passado a meta de reduzir drasticamente a produção até o final da década e agora pretende manter a produção praticamente estável em 2,3 a 2,5 milhões de bpd. A Shell pretende aumentar a produção de petróleo e gás em 1% ao ano até 2030.
A Shell pretende manter os investimentos em gás upstream e integrado estáveis entre 2022 e 2028, em US$ 12 a US$ 14 bilhões por ano. A empresa planeja iniciar cerca de cinco projetos upstream até 2027, mas possui reservas relativamente limitadas para sustentar e aumentar sua produção a longo prazo, o que significa que provavelmente buscará adquirir ativos ou outra empresa.
A BP, que está em profunda turbulência após uma crise de liderança e estratégia que começou em 2023, tem planos para vários novos projetos upstream nos próximos anos, incluindo no Iraque e um desenvolvimento complexo no campo Kaskida, no Golfo do México.
E o grupo britânico anunciou na segunda-feira que fez sua maior descoberta de petróleo em 25 anos no bloco Bumerangue (link) no litoral brasileiro. Se a descoberta tiver volumes comerciais significativos, certamente poderá oferecer à empresa um significativo ganho financeiro, mas, mais uma vez, o desenvolvimento levaria anos e bilhões de dólares.
VALOR E VOLUME
É claro que grandes volumes de petróleo e gás não necessariamente significam maiores retornos para os acionistas, mas as operações upstream têm sido, há muito tempo, o principal impulsionador dos lucros — e isso continua a se refletir nas avaliações atuais.
A relação preço/fluxo de caixa da Exxon, uma métrica de avaliação essencial, de 8,2 se compara à de 7,7 da Chevron, que superam em muito a de 5,1 da Shell, a de 4,6 da TotalEnergies e a de 3,6 da BP, de acordo com dados da LSEG.
É importante ressaltar que o setor energético como um todo está lutando por um conjunto menor de capital. Ele representa menos de 5% do índice S&P 500, abaixo do pico de 16% em 2008, refletindo anos de retornos fracos, enorme volatilidade dos preços da energia e crescentes pressões ambientais.
Diante desse cenário, as grandes empresas de energia da Europa têm se concentrado em reduzir custos e melhorar as operações, ao mesmo tempo em que aumentam moderadamente a produção upstream após anos de menor investimento, quando implementaram estratégias de transição energética entre o final da década de 2010 e 2023.
Mas essas novas estratégias para atrair um conjunto cada vez menor de capital de investimento podem ser insuficientes e tardias, porque mesmo que os europeus acelerem a produção, a Exxon e a Chevron não ficarão paradas.
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