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ANÁLISE-Tarifa de 50% sobre café brasileiro imposta por Trump deve alterar comércio e beneficiar China

Reuters1 de ago de 2025 às 16:18

Por Marcelo Teixeira

- A tarifa de importação do governo Donald Trump sobre o café brasileiro parece destinada a remodelar as rotas comerciais dos grãos do maior produtor e exportador do mundo, beneficiando a China e incentivando os comerciantes a buscar rotas indiretas para os EUA.

Com cerca de 25 milhões de sacas por ano, os EUA são o maior consumidor de café do mundo. Um terço desse volume vem do Brasil, por meio de um comércio bilateral no valor de US$4,4 bilhões nos 12 meses encerrados em junho.

"O fluxo do comércio global de café será remodelado. A dor será sentida de São Paulo a Seattle -- da origem ao torrefador, às cadeias de cafeterias, mercearias e consumidores", disse Michael J. Nugent, corretor sênior de café dos EUA e proprietário da MJ Nugent & Co.

O possível redirecionamento do enorme volume que o Brasil normalmente envia para os EUA, semelhante à produção total da Etiópia, produtor de café de alta qualidade, poderia beneficiar um grande rival de Trump: a China.

Mais grãos brasileiros podem ser destinados à China por causa dos laços comerciais entre as duas nações, ambas membros do grupo Brics, e depois que o primeiro governo Trump gerou interrupções no comércio, disse Marc Schonland, consultor independente do setor cafeeiro dos EUA.

O consumo de café está aumentando na China, à medida que os jovens profissionais abandonam o chá e buscam a cafeína. O Brasil é seu principal fornecedor, exportando 538.000 sacas para a China no primeiro semestre de 2025, segundo dados da associação de exportadores Cecafé.

O consumo de café cresceu cerca de 20% ao ano nos últimos dez anos na China e o consumo de café per capita dobrou nos últimos cinco anos, de acordo com dados do setor.

Mais grãos verdes brasileiros também poderiam ir para a União Europeia, onde não há tarifas, disse Logan Allender, diretor de café da torrefadora e distribuidora americana Atlas Coffee Club.

Especialistas em comércio veem a possibilidade de os exportadores tentarem driblar as tarifas exportando o café brasileiro para outros países e, de lá, para os EUA.

"Isso aumentará um pouco os custos de logística, mas reduzirá o efeito (tarifário) para um máximo de 10% a 15%", disse Debajyoti Bhattacharyya, vice-presidente comercial da empresa de commodities agrícolas AFEX Ltd.

"Sem uma cadeia de suprimentos forte e rastreável, as tarifas não fazem sentido. Quero dizer, não podemos impedir o fluxo de petróleo, por que o café poderia?", disse ele.

A analista de soft commodities e consultora independente Judith Ganes disse que o fato de os EUA terem deixado o café de fora de uma extensa lista de isenção de produtos brasileiros sugere que Trump está usando o produto como moeda de troca em sua disputa política com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Trump disse que a Suprema Corte do Brasil está tratando seu aliado, o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, de forma injusta. Os EUA sancionaram o ministro do STF Alexandre de Moraes na quarta-feira.

Os comerciantes disseram que o café carregado no Brasil até 6 de agosto pode entrar nos EUA sem pagar a tarifa até 6 de outubro.

William Kapos, CEO da Downeast Coffee Roasters, uma grande processadora de café na Costa Leste dos EUA, disse que está correndo para enviar o café brasileiro que já comprou da América do Sul antes do prazo final na próxima semana.

No futuro, Kapos disse que procurará comprar café da América Central e da África para substituir os grãos brasileiros.

"Mas todo mundo fará isso, portanto, em termos de preço, os compradores dos EUA serão pressionados", disse ele.

(Reportagem de Marcelo Teixeira)

((Tradução Redação São Paulo 55 11 56447751)) REUTERS RS

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