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Taxa de Trump impacta setor de carnes do Brasil, setor de café busca saber critério de cobrança

Reuters11 de jul de 2025 às 17:53

- As tarifas de 50% anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estão paralisando a produção de carne bovina brasileira que seria direcionada ao mercado norte-americano e cancelando embarques de produtos como pescados, já que as taxas inviabilizam as exportações, disseram representantes desses setores.

Além disso, há ainda dúvidas sobre qual será o critério considerado para a cobrança da tarifa, que valerá a partir de 1º de agosto. Exportadores de café, por exemplo, buscam informações sobre se a taxa será cobrada com base no dia do embarque no Brasil ou no desembarque nos EUA.

Isso aumenta apreensão sobre as exportações de produtos embarcados no momento, e levanta dúvidas se as cargas a caminho vão conseguir entrar no país com a taxa menor de 10%, anterior ao anúncio de Trump nesta semana. Ainda assim, alguns setores já estão tomando medidas práticas, embora defendam negociação de um prazo maior para aplicação da tarifa.

"A indústria do Brasil decidiu pausar a produção para o mercado dos Estados Unidos no momento, e aguardamos as negociações", disse o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, nesta sexta-feira.

Ele destacou que as tarifas de 50% tornam inviáveis as exportações de carne bovina brasileira ao mercado norte-americano, e acrescentou que contratos terão de ser revistos. A Abiec representa empresas como JBS, Marfrig e Minerva com sede no Brasil, maior exportador global de carne bovina.

Os EUA são o segundo maior mercado para a carne bovina do Brasil, atrás da China.

Já o setor de pescados do Brasil, que envia 70% de suas exportações para os EUA, está suspendendo embarques em vários portos, porque o tempo de chegada desse produto aos EUA pode variar entre 25 e 40 dias, o que inviabilizaria desembarques com tarifas, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Pescados (Abipesca).

"Os clientes estão cancelando porque com a tarifa de 50% fica inviável", disse o diretor-executivo da Abipesca, Jairo Gund, à Reuters.

De quarta a sexta-feira, segundo Gund, cerca de 70 embarques de pescados do Brasil que iriam para os EUA deixaram de ser feitos, totalizando cerca de 1,5 mil toneladas.

Segundo ele, se não houver mudança na tarifa, a produção de pescados deve começar a diminuir nos próximos 60 a 90 dias, disse ele.

Embora grande parte do pescado fique no Brasil, há produtos específicos, como a lagosta produzida no Nordeste, que se destinam especificamente à exportação. Aí a perda será mais expressiva, disse o executivo.

Gund disse que o setor quer uma negociação para reversão das tarifas ou ao menos um prazo mais longo para a sua aplicação.

CAFÉ INCERTO

O presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Márcio Ferreira, disse à Reuters TV que seria preciso uma negociação, já que os EUA são os maiores consumidores globais de café, e não produzem o grão, enquanto o Brasil é o maior produtor e exportador do mundo, e tem os EUA como principal destino.

"O que a gente entende, volto a dizer, é que com um pouco de calma, conversando, nem um lado nem o outro sairá vitorioso. Com tarifas tão altas, todos saem perdendo", disse ele.

Sem um acordo, ele comentou que o volume exportado deve ser afetado, enquanto o consumidor dos EUA será onerado.

"Se você tem aumento de tarifa, você vai ter um impacto também no consumo... onera mais o preço do produto e o impacto é de mão dupla, não só prejudica a origem, prejudica também o consumidor", disse.

O diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron, destacou as incertezas sobre a data da cobrança da tarifa.

"O que estamos apurando é qual será o critério utilizado, se a data de embarque no país de origem, ou a data que entra no país. Por ora, isso não está definido", declarou.

Dependendo disso e do porto dos EUA que receberá a carga, haveria alguma chance de se evitar a tarifa de 50%, em um primeiro momento, mas há preocupações sobre eventual impasse, caso a data da tarifa, 1º de agosto, seja a de entrada no país.

Das mais de 8 milhões de sacas de 60 kg que o Brasil exportou aos EUA no ano passado, aproximadamente 31% entraram pelo porto de Nova Orleans. A viagem do porto de Santos, o principal exportador brasileiro, até lá leva 25 dias, segundo o diretor do Cecafé.

O segundo maior porto importador de café dos EUA é o de Nova York, que recebeu 1 milhão de sacas do produto brasileiro em 2024. Para lá, o tempo de viagem é de 16 dias. "Então este café saindo hoje do Brasil chegaria lá sem problema (antes de 1º de agosto)."

"Com tempos de viagem diferentes, o que estamos tentando apurar, e não tivemos acesso a essa informação, é qual será o critério para aplicação da tarifa."

Em um documento publicado nesta semana, o governo dos EUA não deixa isso claro, segundo o diretor do Cecafé.

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