Por Sergio Flores e Evan Garcia
KERRVILLE, 8 Jul (Reuters) - O número de mortos pela enchente repentina de 4 de julho, que devastou uma parte da região montanhosa central do Texas, nos Estados Unidos, aumentou nesta terça-feira para pelo menos 109, muitos dos quais crianças, enquanto equipes de busca continuam vasculhando montes de destroços cobertos de lama em busca de dezenas de pessoas ainda desaparecidas.
De acordo com dados divulgados pelo governador Gregg Abbott na tarde desta terça-feira, as autoridades estavam procurando por mais de 180 pessoas que continuam desaparecidas, quatro dias após uma das enchentes mais mortais dos EUA em décadas.
A maior parte das fatalidades e a busca por mais vítimas se concentraram no condado de Kerr e em sua sede, Kerrville, uma cidade de 25.000 habitantes transformada em zona de desastre quando chuvas torrenciais atingiram a região na manhã da última sexta-feira, inundando a bacia do rio Guadalupe.
Corpos de 94 vítimas das enchentes -- cerca de um terço delas crianças -- foram recuperados somente no condado de Kerr até esta terça-feira, disse Abbott, em uma entrevista coletiva no fim da tarde, após visitar a área de avião.
Entre os mortos no condado estão 27 campistas e monitores do Acampamento Mystic, um retiro de verão cristão feminino com quase um século de existência, às margens do rio Guadalupe, perto da cidade de Hunt. A diretora do acampamento também morreu.
Cinco meninas e um monitor do acampamento ainda estavam desaparecidos nesta terça-feira, disse Abbott, junto com outra criança não associada ao acampamento.
Até esta terça-feira, outras 15 mortes relacionadas a enchentes foram confirmadas em uma faixa da região montanhosa central do Texas, conhecida como "beco das enchentes repentinas", disse o governador, elevando o total de vidas perdidas para 109.
Relatórios de xerifes locais e da mídia estimaram o número de mortes por enchentes fora do condado de Kerr em 22.
Mas as autoridades disseram que estavam se preparando para o aumento do número de mortos à medida que as águas da enchente recuavam e a busca por mais vítimas ganhava força.
As agências policiais compilaram uma lista de 161 pessoas "conhecidas como desaparecidas" somente no condado de Kerr, disse Abbott. A lista foi verificada para identificar aqueles que poderiam estar sem contato com entes queridos ou vizinhos por estarem de férias ou fora da cidade, de acordo com o governador.
"ENCONTRE CADA PESSOA"
Abbott disse que outras 12 pessoas estavam desaparecidas em outras áreas da zona de inundação, uma faixa extensa a noroeste de San Antonio.
"Precisamos encontrar cada pessoa desaparecida. Essa é a tarefa número um", disse.
Na terça-feira, o cantor country Pat Green, nascido em San Antonio, revelou nas redes sociais que seu irmão mais novo, John, sua esposa, Julia, e dois de seus filhos estavam entre os "levados pela enchente de Kerrville".
Atrapalhadas por tempestades e pancadas de chuva intermitentes, equipes de resgate de agências federais, estados vizinhos e do México uniram-se aos esforços locais para procurar vítimas desaparecidas, embora a esperança de encontrar mais sobreviventes tenha diminuído com o passar do tempo. A última vítima encontrada viva no condado de Kerr foi na sexta-feira.
"O trabalho é extremamente traiçoeiro e demorado", disse o tenente-coronel Ben Baker, do Texas Game Wardens, em uma coletiva de imprensa. "É um trabalho sujo. A água ainda está lá." O Texas Game Wardens é uma divisão do Departamento de Parques e Vida Selvagem do Texas.
Mais de 30 centímetros de chuva caíram na região em menos de uma hora antes do amanhecer da última sexta-feira, fazendo com que uma parede de água desabasse pelo Guadalupe, matando dezenas de pessoas e deixando pilhas de escombros, árvores arrancadas e veículos virados.
Autoridades de emergência locais, estaduais e federais enfrentaram dias de questionamentos sobre se poderiam ter alertado as pessoas sobre o perigo, em áreas propensas a inundações.
APONTANDO DEDOS
Autoridades estaduais de gerenciamento de emergências alertaram na última quinta-feira, na véspera do desastre, que partes do centro do Texas enfrentavam a possibilidade de enchentes repentinas, com base nas previsões do Serviço Nacional de Meteorologia.
Mas o dobro da chuva prevista acabou caindo sobre dois braços do Guadalupe, logo acima da bifurcação onde eles convergem, fazendo com que toda aquela água corresse para o único canal do rio, que corta Kerrville, disse o administrador municipal Dalton Rice.
Rice disse que o resultado não foi previsto e ocorreu em questão de duas horas, deixando pouco tempo para uma evacuação em massa sem colocar mais pessoas em perigo.
Cientistas disseram que eventos extremos de inundações estão se tornando mais comuns à medida que as mudanças climáticas criam padrões de clima mais quentes e úmidos no Texas e em outras partes do país.
Em uma coletiva de imprensa anterior nesta terça-feira, o xerife do condado de Kerr, Larry Leitha, rejeitou perguntas sobre as operações de gerenciamento de emergências e preparação do condado. Ele também se recusou a dizer quem no condado seria o responsável final por monitorar alertas meteorológicos e emitir alertas de inundação ou ordens de evacuação.
Leitha afirmou que seu escritório começou a receber chamadas de emergência para o 911 entre 4h e 5h da manhã de sexta-feira (horário local), várias horas depois que a estação do Serviço Nacional de Meteorologia emitiu um alerta de enchente repentina. "Estamos tentando elaborar um cronograma", disse Leitha.
Abbott afirmou que uma sessão especial legislativa do Texas seria convocada em cerca de duas semanas para investigar a resposta à emergência e fornecer financiamento para o socorro ao desastre.
Questionado na coletiva de imprensa sobre quem ele achava que era o culpado pelo desastre, Abbott respondeu: "Essa é uma escolha de palavras de perdedores".
"A maneira como os vencedores falam não é apontando dedos. Eles falam sobre soluções", acrescentou.
Na segunda-feira, o vice-governador Dan Patrick prometeu que o Estado pagaria pela instalação de um sistema de alerta de sirene para enchentes repentinas em Kerrville até o próximo verão, caso os governos locais "não pudessem pagar".
(Reportagem de Jane Ross em Kerrville, Texas, Jonathan Allen em Nova York e Rich McKay em Atlanta; reportagem e redação adicionais de Steve Gorman em Los Angeles)
((Tradução Redação São Paulo))
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