LONDRES, 20 Jun (Reuters) - O petróleo bruto Brent subiu cerca de 20% até o momento em junho e está a caminho de seu maior salto mensal desde 2020, com o aumento das tensões entre Israel e Irã.
Embora relativamente contida, a escalada não passou despercebida apenas três anos depois que a invasão da Ucrânia pela Rússia desencadeou um aumento nos preços de energia que elevou a inflação global e provocou altas agressivas nas taxas de juros.
Veja a seguir o que o aumento do petróleo significa para os mercados globais:
1/TAMANHO DA ALTA
Os preços do petróleo subiram, mas não dispararam, com os investidores se confortando com o fato de não haver nenhuma interrupção perceptível nos fluxos de petróleo.
Ainda assim, eles continuam prestando atenção
O prêmio do contrato futuro do petróleo Brent para o primeiro mês em relação ao contrato para entrega seis meses mais tarde nesta semana subiu para uma máxima de seis meses, já que os investidores precificaram uma maior chance de transtornos no fornecimento do Oriente Médio LCOc1-LCOc7.
Negociado a cerca de US$77 por barril LCOc1, o petróleo está abaixo da máxima de US$139 registrada em 2022, mas está se aproximando de pontos críticos.
"Se o petróleo entrar na faixa de US$80-100 e permanecer lá, isso colocará em risco a economia global", disse Christophe Boucher, CIO da ABN AMRO Solutions. "Estamos logo abaixo desse limite."
2/ CHOQUE DE OFERTA?
Operadores estão de olho no transporte marítimo, muitas vezes visto como um importante indicador de energia.
Cerca de 20% do consumo total de petróleo do mundo passa pelo Estreito de Ormuz, entre Omã e o Irã. Segundo analistas, um distúrbio nesse local poderia levar o petróleo a ultrapassar US$100.
O bloqueio das rotas marítimas agravaria qualquer choque de oferta. Embora países produtores de petróleo que compõem a OPEP+ tenham prometido um acréscimo de 1,2 milhão de barris por dia, nenhum deles ainda foi enviado ou entregue, disse a diretora do hedge fund Svelland Capital, Nadia Martin Wiggen.
O bloqueio das rotas de transporte significaria que essa oferta esperada não chegaria ao mercado internacional, disse ela.
Ela está observando atentamente as taxas de frete.
"Até o momento, as taxas de frete mostram que a China, com a maior capacidade de refino sobressalente do mundo, ainda não começou a comprar petróleo devido a preocupações com a oferta", disse Wiggen.
"Quando a China começar a comprar, as taxas de frete aumentarão e os preços globais de energia seguirão o mesmo caminho."
3/ SEM PETRÓLEO, SEM CRESCIMENTO
O aumento dos preços do petróleo gera preocupações porque pode elevar a inflação de curto prazo e prejudicar o crescimento econômico ao reduzir o consumo.
Os altos preços do petróleo funcionam como um imposto, dizem economistas, especialmente para os importadores de energia, como o Japão e a Europa, pois é difícil substituir o petróleo no curto prazo.
Samy Chaar, economista-chefe do Lombard Odier, disse que a manutenção dos preços do petróleo acima de US$100 por barril reduziria em 1% o crescimento econômico global e aumentaria a inflação em 1%.
A inquietação aumentou depois que Israel lançou seu ataque contra o Irã há uma semana. Ganhos iniciais dos títulos logo evaporaram quando o foco se voltou para o impacto inflacionário do petróleo mais alto.
O índice a termo de cinco anos da zona do euro, um indicador observado de perto das expectativas de inflação do mercado, subiu para seu nível mais alto em quase um mês EUIL5YF5Y=R.
"Nos Estados Unidos, o petróleo de US$75 é suficiente para, se for mantido, aumentar nossa previsão de inflação em cerca de meio por cento até o final do ano, passando de 3% para 3,5%", disse Frances Donald, economista-chefe do RBC.
Turquia, Índia, Paquistão, Marrocos e grande parte da Europa Oriental, onde o petróleo é muito importado, devem ser os mais afetados pelo aumento dos preços. Os países que fornecem o petróleo, como os países do Golfo, Nigéria, Angola, Venezuela e, até certo ponto, Brasil, Colômbia e México, devem receber um impulso em seus cofres, segundo analistas.
4/ REI DÓLAR
Nos últimos anos, o dólar tem subido quando o petróleo avança, mas teve apenas um apoio limitado do mais recente aumento do petróleo, com um ganho semanal de apenas 0,4% =USD.
Analistas esperam que a tendência de queda do dólar seja retomada, dadas as expectativas de riscos limitados no Oriente Médio por enquanto e o sentimento subjacente de baixa.
O dólar enfraqueceu cerca de 9% até agora neste ano em relação a outras moedas importantes, prejudicado pela incerteza econômica e pela preocupação com a confiabilidade do governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como parceiro comercial e diplomático.
Sem dúvida, um dólar mais fraco cura o impacto da alta do petróleo, que é cotado em dólares.
"Para os países importadores de petróleo, a queda do dólar oferece algum alívio, aliviando o impacto da alta dos preços do petróleo e atenuando a tensão econômica mais ampla", disse o UniCredit.
5/ AÇÕES COMPLACENTES?
Na ausência de um choque na oferta de petróleo, as ações globais estão satisfeitas em se manterem próximas às máximas históricas.
"Os investidores querem deixar isso de lado até que haja um motivo para acreditar que esse será um conflito regional muito maior", disse Osman Ali, codiretor global de Estratégias de Investimento Quantitativo do Goldman Sachs Asset Management.
Os mercados do Golfo tiveram perdas com as primeiras notícias, mas depois se estabilizaram um pouco, ajudados pelos preços mais altos do petróleo. As ações de energia dos EUA e da Europa, especialmente as empresas de petróleo e gás, tiveram um desempenho superior .SPNY, .SXEP, assim como as ações de defesa. .SXPARO
As ações israelenses .TA125, com alta de 6% em uma semana, foram as que tiveram o desempenho mais notável. As ações dos consumidores de petróleo foram as mais atingidas, com destaque para as companhias aéreas.
(Reportagem de Nell Mackenzie, Alun John, Linda Pasquini, David Milliken, Dhara Ranasinghe, Marc Jones e Stefano Rebaudo)
((Tradução Redação São Paulo, +55 11 5047-3075))
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