ANÁLISE-Nomeação antecipada de próximo chair do Fed pode abalar mercados

Por Lewis Krauskopf

NOVA YORK, 18 Jun (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem dito recentemente que nomeará em breve o sucessor de Jerome Powell, faltando quase um ano para o término do mandato do chair do Federal Reserve e com investidores dizendo que isso pode representar um risco para os mercados.

Trump não tem escondido sua insatisfação com Powell e com o Fed por não reduzir a taxa de juros desde que o presidente iniciou seu segundo mandato em janeiro.

Embora Trump tenha recuado dos comentários feitos no início deste ano de que poderia demitir Powell, e uma recente decisão da Suprema Corte dos EUA tenha aliviado as preocupações de que ele poderia fazê-lo, ele disse neste mês que uma decisão sobre o próximo chair do Fed será tomada em breve.

Esse anúncio, bem antes do término do mandato de Powell em maio de 2026, poderia causar um desconforto significativo nos mercados, disseram investidores.

A possibilidade de um chair "sombra" que apresente pontos de vista potencialmente conflitantes com o líder do banco central dos EUA sobre a política monetária pode gerar confusão.

Qualquer escolha considerada como estando sob o controle de Trump alarmaria Wall Street, dado o sentimento geral de que um Fed independente é fundamental para sua capacidade de funcionar adequadamente.

"Seja quem for o nomeado, o principal a ser monitorado é se ele é visto como um nomeado político", disse Eric Winograd, economista-chefe da AllianceBernstein para os EUA. "E, com isso, quero dizer alguém cujas opiniões mudam de acordo com os caprichos do presidente."

O chair do Fed, que define a política monetária dos EUA e tem o mandato de manter o pleno emprego e a estabilidade de preços, está entre as autoridades governamentais mais acompanhadas por Wall Street.

Dito isso, o chair do Fed é apenas um dos 18 membros do comitê que formula a política monetária do banco central e parte de sua função é criar consensos.

Os mercados vão querer um chair do Fed que seja "extremamente focado" no equilíbrio econômico e em seu duplo mandato, disse Callie Cox, estrategista-chefe de mercado da Ritholtz Wealth Management.

"Qualquer gerente de Wall Street lhe diria que a independência do Fed é a regra de ouro dos mercados", disse Cox. "Afastar-se disso pode introduzir uma série de problemas."

Uma escolha não convencional para o Fed apresentaria um potencial risco para os mercados se anunciada nos próximos meses, disse Jason Draho, chefe de alocação de ativos nas Américas do UBS Global Wealth Management.

"É um risco que existe se as pessoas forem muito complacentes com o desenrolar de tudo isso", disse ele.

O Fed não tem vagas em aberto que Trump possa preencher até janeiro, quando termina o mandato de Adriana Kugler no conselho de diretores.

De acordo com o site de previsões Polymarket, os principais candidatos são o assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett; o ex-diretor do Fed Kevin Warsh; Judy Shelton, uma ex-escolha de Trump para a diretoria do Fed cuja indicação foi retirada pelo presidente Joe Biden,; e o secretário do Tesouro, Scott Bessent.

Outro site de previsões, o Kalshi, lista o atual diretor Christopher Waller como tendo as melhores chances de ser indicado.

A Casa Branca não quis comentar sobre Hassett ou Bessent como possíveis candidatos. Um porta-voz do Fed não quis comentar. Em resposta por email, Shelton apontou para seu artigo sobre o Fed nesta semana no The Wall Street Journal. Um pedido de comentário de Warsh não foi respondido imediatamente.

Investidores ainda temem que a nomeação antecipada do próximo chair do Fed possa gerar mensagens confusas sobre a política monetária.

"Você terá duas pessoas tentando dirigir o navio: uma que está realmente dirigindo e outra que é o motorista do banco de trás", disse Ryan Sweet, economista-chefe da Oxford Economics para os EUA.

Há meses, Trump vem criticando Powell, que o próprio presidente nomeou em 2018, pela decisão do Fed de não reduzir oa juros neste ano.

Na semana passada, Trump criticou Powell pela falta de cortes, chamando-o de idiota, mas disse: "Não vou demiti-lo".

O chair do Fed precisaria ser confirmado pelo Senado dos EUA, um processo que poderia levar meses a partir do momento do anúncio de Trump, disseram investidores.

Alguns investidores duvidam que Trump nomearia um substituto para Powell tão cedo, esperando até mais perto do fim do mandato do chair do Fed. O eventual indicado também pode não estar entre os mais cotados ou previstos publicamente no momento, disseram.

((Tradução Redação São Paulo, +55 11 5047-3075))

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