Por Nidal al-Mughrabi e Alexander Cornwell
CAIRO/TEL AVIV, 4 Jul (Reuters) - O Hamas disse que respondeu nesta sexta-feira com "um espírito positivo" a uma proposta de cessar-fogo em Gaza mediada pelos EUA e que estava preparado para entrar em negociações sobre a implementação do acordo, que prevê a libertação de reféns e negociações sobre o fim do conflito.
O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou mais cedo uma "proposta final" para um cessar-fogo de 60 dias na guerra de quase 21 meses entre Israel e o Hamas, afirmando que esperava uma resposta das partes nas próximas horas.
O Hamas escreveu em seu site oficial: "O movimento do Hamas concluiu suas consultas internas, bem como as discussões com as facções e forças palestinas a respeito da última proposta dos mediadores para interromper a agressão contra nosso povo em Gaza.
"O movimento entregou sua resposta aos mediadores fraternos, que foi caracterizada por um espírito positivo. O Hamas está totalmente preparado, com toda a seriedade, para entrar imediatamente em uma nova rodada de negociações sobre o mecanismo de implementação dessa estrutura", disse o comunicado.
Em um sinal dos possíveis desafios que as partes ainda enfrentam, uma autoridade palestina de um grupo militante aliado ao Hamas disse que ainda há preocupações com relação à ajuda humanitária, à passagem pela travessia de Rafah para o Egito e à clareza sobre o cronograma de retirada das tropas israelenses.
Trump disse na terça-feira que Israel havia concordado "com as condições necessárias para finalizar" um cessar-fogo de 60 dias, durante o qual seriam feitos esforços para acabar com a guerra do aliado dos EUA no enclave palestino.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ainda não comentou o anúncio de Trump e, em suas declarações públicas, os dois lados permanecem distantes. Netanyahu tem dito repetidamente que o Hamas deve ser desarmado, uma posição que o grupo militante, que supostamente mantém 20 reféns vivos, tem se recusado a discutir até agora.
Netanyahu deve se encontrar com Trump em Washington na segunda-feira.
Trump disse que seria "muito firme" com Netanyahu sobre a necessidade de um cessar-fogo rápido em Gaza, ao mesmo tempo em que observou que o líder israelense também quer um cessar-fogo.
"Esperamos que isso aconteça. E estamos ansiosos para que aconteça na próxima semana", disse ele aos repórteres no início desta semana. "Queremos tirar os reféns de lá."
ATAQUES DURANTE A NOITE
Os ataques israelenses mataram pelo menos 138 palestinos em Gaza nas últimas 24 horas, segundo autoridades de saúde locais.
Servidores de saúde do Hospital Nasser em Khan Younis, no sul de Gaza, disseram que os militares israelenses realizaram um ataque aéreo em um acampamento de barracas a oeste da cidade por volta das 2h da manhã, matando 15 palestinos deslocados por quase dois anos de guerra.
Os militares israelenses disseram que as tropas que operam na área de Khan Younis eliminaram militantes, confiscaram armas e desmantelaram postos avançados do Hamas nas últimas 24 horas, enquanto atingiam 100 alvos em Gaza, incluindo estruturas militares, instalações de armazenamento de armas e lançadores.
Mais tarde nesta sexta-feira, os palestinos se reuniram para realizar orações fúnebres antes de enterrar os mortos durante a noite.
"Deveria ter havido um cessar-fogo há muito tempo, antes de eu perder meu irmão", disse Mayar Al Farr, de 13 anos, enquanto chorava. Seu irmão, Mahmoud, foi morto a tiros em outro incidente, disse ela.
"Ele foi buscar ajuda para conseguir um saco de farinha para comermos. Levou um tiro no pescoço", disse ela.
"FAZER O ACORDO"
Em Tel Aviv, as famílias e amigos dos reféns mantidos em Gaza estavam entre os manifestantes que se reuniram do lado de fora do prédio da Embaixada dos EUA no Dia da Independência dos EUA, pedindo a Trump que garantisse um acordo para todos os cativos.
Os manifestantes montaram uma mesa simbólica para o jantar do Sabbath, colocando 50 cadeiras vazias para representar aqueles que ainda estão presos em Gaza. Faixas penduradas nas proximidades exibiam uma postagem de Trump em sua plataforma Truth Social que dizia: "FAÇAM O ACORDO EM GAZA. TRAGAM OS REFÉNS DE VOLTA!!!"
"Somente vocês podem fazer o acordo. Queremos um belo acordo. Um belo acordo com os reféns", disse Gideon Rosenberg, 48 anos, de Tel Aviv.
Rosenberg estava usando uma camiseta com a imagem do refém Avinatan Or, um de seus funcionários que foi sequestrado por militantes palestinos no festival musical Nova em 7 de outubro de 2023. Ele está entre os 20 reféns que se acredita estarem vivos após mais de 600 dias de cativeiro.
Uma autoridade familiarizada com as negociações disse na quinta-feira que a proposta prevê o retorno de 10 dos reféns durante os 60 dias, juntamente com os corpos de outros 18 que foram mantidos como reféns.
Ruby Chen, 55 anos, pai de Itay, norte-americano-israelense de 19 anos, que se acredita ter sido morto após ser levado em cativeiro, pediu a Netanyahu que voltasse da reunião com Trump com um acordo que trouxesse de volta todos os reféns.
Itay Chen, também de nacionalidade alemã, estava servindo como soldado israelense quando o Hamas realizou seu ataque surpresa em 7 de outubro de 2023, matando cerca de 1.200 pessoas, a maioria civis, e fazendo outras 251 reféns.
A guerra de retaliação de Israel contra o Hamas devastou Gaza, que o grupo militante governou por quase duas décadas, mas que agora controla apenas em partes, deslocando a maior parte da população de mais de 2 milhões de pessoas e provocando fome generalizada.
Mais de 57.000 palestinos foram mortos em quase dois anos de combates, a maioria deles civis, de acordo com autoridades de saúde locais.
((Tradução Redação São Paulo))
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