28 Abr (Reuters) - O metal retorcido e os escombros manchados de sangue de um centro de detenção no montanhoso norte do Iêmen, nesta segunda-feira, marcam o fim de uma árdua jornada para dezenas de migrantes mortos no que o grupo Houthi disse ter sido um ataque aéreo dos EUA.
Eles estavam entre as centenas de milhares de africanos que atravessam o estreito de Bab al-Mandab todos os anos em barcos frágeis e abrem caminho pela zona de guerra do Iêmen, buscando chegar à Arábia Saudita na esperança de encontrar trabalho.
A trilha de migrantes para a Arábia Saudita recebe menos atenção internacional do que a trilha para a Europa ou para os Estados Unidos, mas um relatório do ano passado da agência de migração da ONU a chamou de um dos "corredores de migração mais movimentados e arriscados do mundo".
Isso envolve atravessar desertos a pé, pagar contrabandistas inescrupulosos, enfrentar um mar incerto, arriscar-se a sofrer abusos nas mãos de facções armadas e, em seguida, atravessar uma fronteira montanhosa altamente defendida que há anos é linha de frente ativa.
Um relatório da Human Rights Watch em 2023 também alegou abusos generalizados por parte dos guardas de fronteira sauditas -- incluindo o direcionamento de grupos de migrantes com morteiros e tiros, alegações que o governo saudita considera infundadas.
O reino é o maior exportador de petróleo do mundo e abriga milhões de trabalhadores estrangeiros -- muitos deles migrantes sem documentos que tentam ganhar a vida como empregados domésticos e trabalhadores e economizam dinheiro para enviar de volta para casa.
Apesar dos riscos da viagem, ou de ser detido na Arábia Saudita e repatriado por um governo que lançou repetidas repressões na última década, um grande número de pessoas continua tentando, fugindo da pobreza ou da guerra.
Embora a maior parte dos migrantes que tentam chegar à Arábia Saudita através do Iêmen seja de etíopes, um grande número de sudaneses e somalis também tenta fazer a viagem, informou a agência da ONU, a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Eles atravessam o deserto a pé da Etiópia para o Djibuti ou a Somália e pagam aos contrabandistas cerca de US$300 por um barco para o Iêmen. A viagem não é longa, mas no ano passado mais de 500 pessoas foram registradas como afogadas após barcos virarem ou afundarem, informou a OIM.
PERIGO
Dentro do Iêmen, os migrantes deixam a área controlada pelo governo reconhecido internacionalmente e vão para o norte, para áreas controladas pelos Houthis, um grupo alinhado ao Irã que tomou a capital em 2014.
A guerra civil do Iêmen se arrasta há mais de uma década, alternando períodos de guerra intensa e conflitos de nível mais baixo. O país está repleto de armas e os mandatos locais ou tribais geralmente substituem o governo de qualquer um dos lados.
Os migrantes relataram agressões sexuais, trabalho forçado e extorsão ao atravessar o Iêmen.
A fronteira com a Arábia Saudita representa o último grande perigo. Desde 2015, ela tem sido uma linha de frente na campanha militar do reino contra os Houthis, com repetidos ataques de combatentes iemenitas na fronteira nos estágios iniciais do conflito.
Os principais combates se acalmaram, no entanto, com as negociações de cessar-fogo em 2022, e as áreas mais populosas da fronteira continuam sendo os principais pontos de passagem, como têm sido há décadas.
Essa área da fronteira se eleva abruptamente do calor úmido da planície costeira do Mar Vermelho, passando por montanhas ásperas e arbustos e entrando em vales profundos cheios de juncos com campos e antigas vilas de pedra agarradas às encostas acima.
Durante uma visita da Reuters à fronteira, há uma década, grupos de migrantes podiam ser vistos escondendo-se em arbustos, tentando atravessar correndo uma trilha de terra patrulhada por guardas de fronteira sauditas.
Mesmo assim, fatalidades eram comuns. Agora, após anos de guerra que encheram o terreno de minas terrestres e intensificaram a tensão dos guardas de fronteira, a divisa está mais perigosa do que nunca.
(Reportagem de Andrew Mills e Angus McDowall)
((Tradução Redação Brasília))
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