Por Michael Martina
WASHINGTON, 23 Abr (Reuters) - As negociações entre EUA e China para combater a epidemia de fentanil continuam, em meio à guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo, disseram à Reuters quatro autoridades norte-americanas familiarizadas com as discussões.
No entanto, negociadores norte-americanos alegam que os chineses não estão negociando de boa-fé.
Os dois lados trocam informações sobre traficantes e se comunicam com frequência. Mas as propostas de Pequim para ajudar a resolver a crise até o momento são inadequadas, disseram as fontes, e testam a paciência do presidente dos EUA, Donald Trump, que adotou uma postura mais conflituosa com a China em relação às drogas do que seu antecessor, Joe Biden.
Washington afirma que os fabricantes e exportadores chineses de produtos químicos fornecem a maioria dos precursores usados pelos cartéis de drogas para produzir opioides sintéticos, a causa de quase 450.000 mortes por overdose nos EUA. Os precursores são substâncias utilizadas como matéria-prima para fabricação de outras, como o fentanil.
A China há muito defende suas rígidas leis antidrogas e seu histórico de repressão aos contrabandistas, afirmando que os EUA precisam lidar com seus próprios problemas de dependência.
“O abuso de fentanil nos EUA é um problema que deve ser enfrentado e resolvido pelos próprios EUA”, disse Liu Pengyu, porta-voz da embaixada chinesa em Washington, à Reuters.
Nas últimas semanas, o governo Trump tem mantido conversas diretas com seus homólogos chineses, principalmente entre a alta administração da embaixada chinesa em Washington e o Conselho de Segurança Nacional dos EUA, disseram as quatro autoridades norte-americanas. Funcionários da embaixada dos EUA em Pequim também têm se envolvido.
Os negociadores de Trump expressaram seu desejo de que as autoridades chinesas ajam rapidamente para processar e condenar produtores e vendedores chineses de precursores que alimentam o comércio de fentanil, disseram autoridades norte-americanas. A China, por sua vez, ofereceu-se para regulamentar outros precursores de fentanil além daqueles que já controla, uma proposta que, segundo os norte-americanos, fica muito aquém do que buscam.
"Falar é fácil", disse uma das autoridades norte-americanas, acrescentando que os dois lados estavam em um "impasse".
Em resposta a perguntas da Reuters sobre as negociações antinarcóticos, uma autoridade do governo disse que os EUA poderiam considerar medidas punitivas adicionais para obrigar a China a tomar medidas significativas contra os precursores de fentanil, incluindo sanções aos bancos chineses. "Nada está fora de cogitação", disse a fonte.
No ano passado, repórteres da Reuters compraram online 6,6 quilos de precursores e equipamentos para fabricação de pílulas de vendedores chineses que comercializam abertamente drogas ilegais, como parte de uma investigação sobre a sigilosa cadeia global de suprimentos do fentanil.
Como parte da série "Fentanyl Express", repórteres detalharam as negociações antinarcóticos entre EUA e China realizadas durante o governo Biden, negociações que não conseguiram obter grandes concessões de Pequim, e previram uma abordagem mais antagônica planejada pelo segundo governo Trump.
Entre as primeiras medidas de Trump está a imposição de tarifas que agora totalizam 20% sobre as importações chinesas, devido à suposta falha de Pequim em conter o fluxo de precursores de fentanil para cartéis de drogas.
Outras rodadas de tarifas na guerra comercial do presidente impuseram tarifas de base de 145% ou mais sobre muitos produtos chineses, níveis que a China alertou que prejudicariam as negociações sobre o combate às drogas.
"Se (os EUA) realmente querem resolver o problema do fentanil, precisam revogar as tarifas injustificadas, manter consultas em pé de igualdade com a China e buscar cooperação mutuamente benéfica", disse Liu, porta-voz da embaixada chinesa.
No passado, Pequim suspendeu o diálogo sobre drogas após uma visita a Taiwan da então presidente da Câmara, Nancy Pelosi, em 2022. Biden retomou o diálogo, e as negociações continuaram sob o governo Trump.
(Reportagem de Michael Martina em Washington; reportagem adicional de Antoni Slodkowski em Pequim)
((Tradução Redação São Paulo))
REUTERS FDC