O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou um plano chamado "Dia da Libertação" que introduz tarifas recíprocas a nações que, segundo o governo, impõem barreiras desproporcionais aos produtos americanos. A proposta, que desafia o sistema multilateral da Organização Mundial do Comércio, permitirá que os EUA ajustem tarifas com base no que cada país cobra dos produtos americanos. Este anúncio foi feito em 2 de outubro, após o fechamento dos mercados internacionais.
Analistas destacam que essa abordagem, embora procure igualar tarifas e barreiras não-tarifárias, ignora compromissos multilaterais e pode intensificar disputas comerciais. Países como China, União Europeia, México, Canadá, Brasil, Japão e Coreia do Sul estão na mira das novas tarifas. A China já sofre com sobretaxas, enquanto México e Canadá enfrentam tarifas sobre aço e alumínio. O Brasil, citado diretamente por Trump, corre risco de retaliação devido às suas tarifas médias elevadas.
Globalmente, as tarifas propostas podem provocar efeitos significativos. De acordo com a Bloomberg Economics, a tarifa média dos EUA poderia aumentar até 28 pontos percentuais, impactando o PIB americano em 4% e aumentando os preços em até 2,5% nos próximos anos. O conflito comercial coloca US$ 9,5 trilhões em risco, segundo a Câmara de Comércio Americana para a União Europeia. Países com economias mais resilientes, como China e Índia, poderiam ser menos afetados, mas o impacto nos parceiros comerciais será severo.
Para o Brasil, o impacto imediato no comércio deve ser limitado, conforme análise de economistas do Bradesco e Otaviano Canuto. No entanto, o risco pelo canal financeiro é significativo. As tarifas devem elevar a inflação nos EUA, pressionando o Federal Reserve a manter taxas de juros altas, o que pode afetar o real e encarecer o crédito no Brasil. Isso resultaria em desvalorização cambial e aumento da inflação interna.
Caso as tarifas sejam aplicadas, setores brasileiros como petróleo, aço e aeronaves, que têm os EUA como destino de 12% das exportações, podem ser prejudicados. Um cenário extremo de retaliação poderia levar a uma redução significativa nas exportações e à necessidade de ajustes econômicos internos.
O Brasil enfrenta barreiras não-tarifárias significativas e, apesar de sua capacidade de retaliação ser limitada, busca manter um diálogo aberto com os EUA. Recentemente, a China e a União Europeia reagiram a tarifas americanas com medidas semelhantes. No mercado financeiro, a incerteza aumentou, com empresas alertando sobre custos crescentes e mudanças na produção. Analistas, incluindo os do Goldman Sachs, elevaram a probabilidade de recessão nos EUA para 35%, mencionando a confiança do consumidor e tensões comerciais como principais fatores.
A situação representa um ambiente volátil para o Brasil, com menor demanda global e custos de financiamento mais elevados. Portanto, a abordagem diplomática e cautelosa do Brasil é crucial para mitigar impactos negativos e preservar relações comerciais estratégicas.