Por Hari Kishan
BENGALURU, 28 Abr (Reuters) - São altos os riscos de que a economia global entre em recessão este ano, de acordo com a maioria dos economistas em uma pesquisa da Reuters, apontando que as tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afetaram a confiança empresarial.
Há apenas três meses, o mesmo grupo de economistas, abrangendo quase 50 economias, esperava que a economia global crescesse em um ritmo forte e constante.
Mas a pressão de Trump para remodelar o comércio mundial, impondo tarifas sobre todas as importações dos EUA, causou um choque nos mercados financeiros, eliminando trilhões de dólares em valor de mercado de ações e abalando a confiança dos investidores nos ativos dos EUA, incluindo o dólar.
Embora Trump tenha suspendido as tarifas mais pesadas impostas a quase todos os parceiros comerciais por alguns meses, uma tarifa geral de 10% permanece, bem como uma taxa de 145% sobre a China, o maior parceiro comercial dos Estados Unidos.
"Já é bastante difícil para as empresas pensarem em julho neste momento em que não sabem quais serão as tarifas recíprocas. Tente planejar para daqui a um ano. Quero dizer, quem sabe como será, quanto mais daqui a cinco anos", disse James Rossiter, chefe de estratégia macro global da TD Securities.
Diante do aumento das incertezas e das taxas elevadas, muitas empresas globais retiraram ou cortaram as previsões de receita.
Demonstrando uma unanimidade incomum, nenhum dos mais de 300 economistas entrevistados entre 1 e 28 de abril afirmou que as tarifas tiveram um impacto positivo sobre a confiança das empresas, com 92% dizendo "negativo". Apenas 8% disseram "neutro", principalmente da Índia e de outras economias emergentes.
Três quartos dos economistas reduziram sua previsão de crescimento global para 2025, levando a mediana de 3,0% em uma pesquisa de janeiro para 2,7%. O Fundo Monetário Internacional calcula expansão um pouco maior, em 2,8%.
As economias individuais pesquisadas apresentaram uma tendência semelhante; as previsões foram reduzidas para 28 das 48 economias pesquisadas.
Entre as outras, para 10 economias a expectativa permaneceu inalterada e para 10, incluindo a Argentina e a Espanha, a conta foi ligeiramente melhorada, com base principalmente em acontecimentos domésticos.
A previsão de crescimento da China e da Rússia foi de 4,5% e 1,7%, respectivamente, superando o desempenho dos EUA. Essas estimativas medianas permaneceram inalteradas em relação à pesquisa do último trimestre.
Entretanto, as previsões de crescimento para o México e o Canadá foram rebaixadas em relação a janeiro por algumas das maiores margens, para 0,2% e 1,2%. A maioria dessas revisões ocorreu no último mês.
O cenário para 2026 foi praticamente o mesmo, sugerindo que a tendência de queda nas expectativas de crescimento que começou com a imposição de tarifas por Trump é profunda e não é fácil de ser corrigida.
Perguntados sobre o risco de uma recessão global este ano, 60% - 101 de 167 - disseram que era alto ou muito alto. Sessenta e seis disseram que era baixo, incluindo quatro que disseram muito baixo.
"É um ambiente muito difícil para sermos otimistas em relação ao crescimento", disse Timothy Graf, chefe de estratégia macro para a Europa, Oriente Médio e África da State Street.
"Poderíamos nos livrar das tarifas hoje e isso ainda teria causado muitos danos, estritamente do ponto de vista dos EUA como um ator confiável em acordos bilaterais e multilaterais que vão do comércio à defesa comum."
O progresso que os bancos centrais fizeram nos últimos dois anos para domar o pior surto de inflação global em décadas, aumentando as taxas de juros em rápida sucessão, também deverá ser interrompido devido às tarifas, que os economistas concordam que são inflacionárias.
"Cortar o acesso ao seu maior parceiro comercial (...) causará todos os tipos de efeitos selvagens e não tão maravilhosos sobre os preços, e isso terá todos os tipos de impactos negativos sobre a renda real e, em última análise, sobre a demanda", acrescentou Graf, da State Street.
"É uma situação em que a possibilidade de entrarmos em um ambiente estagflacionário sempre foi bastante baixa - mas acho que agora está mais alta."
A estagflação é definida como um período prolongado de crescimento baixo ou nulo, inflação alta e aumento do desemprego.
Mais de 65% - 19 dos 29 principais bancos centrais pesquisados - não esperavam atingir suas metas de inflação este ano. O número caiu ligeiramente para 15 para o próximo ano.
(Pesquisa, análise e reportagem da equipe de Pesquisa da Reuters em Bengaluru redações de Buenos Aires, Cairo, Istambul, Johanesburgo, Londres, Xangai e Tóquio)
((Tradução Redação São Paulo))
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