Por Ariane Luthi e John O'Donnell
BERN, 6 Jun (Reuters) - A Suíça anunciou nesta sexta-feira uma série de reformas para tornar seu maior banco, o UBS UBSG.S, mais seguro e evitar uma nova crise, dificultando as ambições globais da instituição, cujo peso financeiro já supera o da própria economia do país.
O UBS se tornou o único banco global da Suíça há mais de dois anos, após o governo organizar às pressas o resgate do Credit Suisse, então envolvido em escândalos, para evitar um colapso desordenado.
O fim do Credit Suisse, um dos maiores bancos do mundo, abalou os mercados globais e pegou de surpresa autoridades e órgãos reguladores, cuja incapacidade de conter os sucessivos escândalos da instituição expôs sua fragilidade.
Nesta sexta-feira, falando do mesmo púlpito em que anunciou o resgate do Credit Suisse em 2023, quando ainda era ministra das Finanças, a presidente da Suíça, Karin Keller-Sutter, passou uma mensagem firme. O país não seria pego de surpresa novamente.
"Não acredito que a competitividade será prejudicada, mas é verdade que crescer no exterior vai se tornar mais caro", disse Keller-Sutter, referindo-se ao UBS.
"Já tivemos duas crises: 2008 e 2023", afirmou. "Se você vê que algo está quebrado, precisa consertá-lo."
Durante a crise financeira global de 2008, o UBS sofreu grandes perdas com dívidas subprime, com sua desastrosa expansão em bancos de investimento de alto risco levando a baixas contábeis de dezenas de bilhões de dólares e forçando o banco a recorrer ao Estado.
As lembranças dessa crise ainda são fortes, reforçando a determinação do governo após o colapso do Credit Suisse.
Para o UBS, que tem um balanço financeiro de cerca de US$1,7 trilhão, muito maior do que a economia suíça, as implicações das reformas propostas nesta sexta-feira são claras. A Suíça não quer mais apoiar sua expansão internacional.
"Resumindo: quem arca com o risco do crescimento no exterior?", disse Keller-Sutter. "O banco, seus proprietários ou o Estado?"
As novas regras propostas pelo governo suíço exigem que o UBS mantenha mais capital dentro da Suíça para cobrir os riscos de suas operações no exterior.
Essa medida, uma das mais importantes adotadas pela Suíça em meio a uma série de ações pontuais, encarecerá a operação dos negócios internacionais do UBS, um dos maiores bancos do mundo voltado para milionários e bilionários.
Após a divulgação do pacote de reformas, o presidente do conselho do UBS, Colm Kelleher, e o presidente-executivo, Sergio Ermotti, afirmaram em um memorando interno que, se implementadas integralmente, as medidas vão prejudicar a "pegada competitiva global" do banco e afetar a economia suíça.
A reforma exigirá que o UBS mantenha até US$ 26 bilhões em capital extra.
Alguns acreditam que as novas exigências podem mudar os rumos do banco.
"Pode ser que o UBS tenha que repensar sua estratégia de crescimento nos Estados Unidos e na Ásia", disse Andreas Venditti, analista do Vontobel.
"Não se trata apenas de crescer. Isso torna o negócio atual mais caro. É um incentivo para encolher e é bem provável que isso aconteça."
O fim do Credit Suisse quebrou o mito da invencibilidade de um dos países mais ricos do mundo, lar de uma moeda de reserva global, e expôs a ineficácia de uma das principais reformas adotadas após a crise financeira para evitar resgates estatais.
Para muitos na Suíça, as reformas anunciadas pelo governo já deveriam ter sido feitas há muito tempo.
"O banco é maior do que toda a economia suíça. Faz sentido que ele não cresça ainda mais", disse Andreas Missbach, da Alliance Sud, um grupo que atua em defesa da transparência.
"É bom que o governo não tenha cedido ao lobby do UBS. A questão é se isso será suficiente. Temos uma crise bancária quase a cada 12 anos. Portanto, não estou realmente tranquilo."
(Reportagem adicional de Dave Graham e Oliver Hirt em Zurique)
((Tradução Redação São Paulo))
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