Por Roberto Samora
CAMPINAS, 4 Jul (Reuters) - O grupo Tristão, um dos grandes exportadores de café verde e solúvel do Brasil, projeta construir um armazém para pelo menos 1 milhão de sacas de 60 kg próximo a um novo porto do Espírito Santo, enquanto vê potencial para o Estado capixaba superar a produção de grãos do Vietnã em mais alguns anos.
O Espírito Santo, se fosse um país, já seria o terceiro maior produtor de café do mundo, atrás do Brasil e Vietnã, com uma produção estimada pela estatal Conab em 16,4 milhões de sacas, enquanto alguns integrantes do mercado veem um número entre 18-19 milhões de sacas.
O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) estima a safra do Vietnã 2025/26 em 31 milhões de sacas, enquanto o órgão do governo norte-americano vê a colheita do Espírito Santo em 21,5 milhões de sacas, sendo 17,5 milhões de canéforas e 4 milhões de arábica.
No Brasil, o Estado ainda perde para Minas Gerais, o maior produtor de café da federação. Mas os capixabas produzem mais do que a Colômbia, com a diferença que têm sua safra concentrada em grãos do tipo conilon, uma variedade da espécie canéfora, que inclui o robusta, produzido pelo Vietnã. Os colombianos e mineiros são especializados no arábica.
"Não é impossível você imaginar que daqui a cinco anos o Espírito Santo estará produzindo mais do que o Vietnã. Não é impossível", disse à Reuters o presidente do grupo Tristão, Sérgio Tristão, destacando que há novas áreas cultivadas no Estado com "muita tecnologia" e irrigação, além de espaço para expansões adicionais em pastagens degradadas, que respeitariam legislações ambientais como a EUDR, da União Europeia.
O aumento da produção do conilon no Brasil tem deixado surpresos integrantes do mercado global, na medida em que produtores locais realizam investimentos após os preços atingirem níveis recordes, em parte devido a uma menor oferta no Vietnã no ano passado.
Atualmente, o grupo Tristão tem armazém na Grande Vitória, distante da principal região produtora de conilon, ao norte do Espírito Santo, e precisa realizar exportações pelos portos de Santos, Rio de Janeiro e Sepetiba. Este é um processo mais custoso, já que o produto é levado para esses locais por cabotagem, antes de viajar pelo Oceano Atlântico em navios maiores, disse Tristão à Reuters, durante o Coffee Dinner & Summit, promovido pelo conselho de exportadores brasileiros Cecafé.
O novo porto Imetame, em Aracruz (ES), promete mudar esta situação, após começar a operar em 2027, disse o empresário.
Tristão projeta construir o novo armazém de café nas proximidades do porto, para melhorar a logística, e prevê ainda obter ganhos tributários, já que o empreendimento estará na área da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), garantindo incentivos fiscais.
"Vamos comprar um terreno perto do porto com as vantagens da Sudene e projetar ali o nosso futuro", disse Tristão, cujo grupo familiar completa 90 anos em 2025.
O foco da empresa é a exportação, com grãos verdes (arábica e conilon) e o café solúvel, fabricado tradicionalmente com grãos conilon.
O ARMAZÉM
A empresa espera ter um plano concluído, até o final do semestre, para já começar a investir na construção do armazém em 2026. Será um projeto "tipo Lego", sendo construído aos poucos, disse Tristão, diante das altas taxas de juros atuais que tornam mais caros os financiamentos.
"A gente quer um armazém grande para poder receber o café do produtor mesmo antes de comprar. Para ele deixar o café encostado, para quando ele quiser vender, para a gente ter uma rastreabilidade melhor", disse o empresário, lembrando que a companhia ficará mais perto do produtor de conilon, cuja produção no Estado está mais ao norte.
Ele preferiu não dar números sobre o valor do investimento.
Atualmente, o grupo tem um armazém com capacidade para cerca de 300 mil sacas no Espírito Santo e outro em Varginha (MG).
"A gente poderia estar finalizando as primeiras etapas do novo armazém em 2027, com o porto já funcionando", disse.
Além dos tradicionais destinos de exportação, como Estados Unidos, Japão e Europa, Tristão citou a Indonésia e a China como novos demandantes do café brasileiro, uma demanda que tem também estimulado a produção local.