Por Roberto Samora
SÃO PAULO, 1 Jul (Reuters) - Os preços do algodão no mercado futuro de Nova York não caíram o suficiente para causar uma redução de área plantada na América do Sul, notadamente o Brasil, maior exportador global da pluma, disse nesta terça-feira o chefe da plataforma de algodão da Louis Dreyfus Company, Joe Nicosia.
Além de reconhecer que a produção de algodão do Brasil é mais competitiva frente a outros concorrentes, Nicosia destacou que a força do dólar frente ao real tem favorecido o setor no país, compensando parte da fraqueza dos preços futuros da pluma.
Neste aspecto, ele considerou o Brasil como um "afortunado", durante apresentação no evento da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), em São Paulo.
"Vocês têm muita sorte de ter uma moeda fraca e se aproveitaram disso... O dólar forte prejudicou a competitividade dos Estados Unidos. Imagine o que aconteceria com a sua lucratividade se o real chegar a quatro", comentou ele.
Os preços do algodão CTc1 na bolsa ICE estão oscilando perto do 68 centavos de dólar por libra-peso, próximos dos registrados no início do ano, mas distantes dos mais de 100 centavos da máxima de 2024, registrada em fevereiro, e dos cerca de 150 centavos de pico de 2022.
Nicosia citou entre os fatores para um preço mais baixo a forte concorrência das fibras sintéticas, enquanto o consumo global de algodão está relativamente estável.
Ele disse também que a grande produção na China e uma demanda estagnada limitam as importações do gigante asiático, que perdeu o posto de maior importador global da pluma em anos recentes.
O executivo citou ainda que, em alguns países, como a China, programas governamentais de preços de suporte estimulam o algodão, elevando a oferta e pressionando os preços.
E avaliou que o crescimento da oferta, sem uma correspondência no consumo, pode ser insustentável.
"No curto prazo, em última análise, ou o mundo aumenta o consumo ou alguém tem que parar de cultivar algodão. Esse é o nosso dilema, porque vamos cultivar mais algodão do que consumimos no mundo hoje", destacou.
De outro lado, ele citou o potencial "fora de série" de produção do Brasil, graças à disponibilidade de terras, com a realização do algodão na segunda safra, além das produtividades maiores.
"É uma loucura. Então, o seu potencial é ilimitado no Brasil... o que dizemos em nossa própria empresa é que o Brasil compete com quem? O Brasil compete com o Brasil. Não concorre com todo mundo. Compete consigo mesmo. E esta é uma das razões pelas quais vocês estão lá."
O Brasil superou os Estados Unidos como maior exportador global em 2023/24 e atualmente é o terceiro produtor global, atrás de China e Índia.
Nicosia citou que a primeira guerra comercial entre China e EUA foi importante neste processo para o Brasil avançar suas vendas, enquanto o país segue ganhando mercados em todos os principais destinos da pluma.
Diante de um consumo global sem grande força, o executivo sugeriu que os principais exportadores de algodão juntem esforços para explorar as potencialidades do produto, citando que as fibras naturais têm vantagens, enquanto estudos apontam que as fibras sintéticas podem gerar microplásticos que afetam a saúde humana.
O executivo também chamou a atenção para a importância do estabelecimento de políticas públicas e tarifárias que incentivem o consumo de roupas de algodão natural.
FIQUE TRANQUILO
Apesar do alerta do executivo da Dreyfus sobre a importância de estimular a demanda e das preocupações com a competitividade da fibra sintética, o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Gustavo Piccoli, disse que o Brasil vai continuar ampliando a produção da pluma, e o "mundo pode ficar tranquilo" com isso.
Ele admitiu que há desafios para garantir preços em patamares que favoreçam o crescimento dos mercados e a demanda. Mas mostrou-se otimista.
"Nós produtores sempre queremos vender o produto caro, mas vamos ter que aprender a produzir a preços em níveis acessíveis para o mercado comprar. Mas para isso precisaremos de toda a cadeia no processo", disse ele, durante o evento.
"Tenho certeza que o Brasil vai atender a demanda, o mundo todo pode consumir mais fibra natural, temos área e tecnologia para atender a demanda mundial", acrescentou Piccoli.